terça-feira, 21 de julho de 2015


Uma amiga me avisa que vai haver a abertura do projeto “Poesia no metrô” no dia 20 de outubro. Vão colocar cartazes com poemas nas estações. A abertura foi ontem.
Que beleza, penso...Até que enfim vai surgir uma oportunidade para os poetas desconhecidos, jovens ou não, e aí, quem sabe, vou ter a chance de ver um cartaz com um dos meus poemas, lido por milhares de pessoas...
Como vocês podem ver, sonho, sonho sempre, e sonho alto.
Sinto um arrepio de felicidade só de pensar...Como não posso ir até à Vila Madalena para assistir à abertura, penso em entrar no Google para saber mais sobre o projeto. Nem chego a acessar e já recebo uma mensagem de minha amiga Cira.
Revoltada, ela me escreve reclamando, dizendo que o projeto é ridículo, que não incentiva ninguém a escrever, e reproduz na mensagem uma foto do cartaz com um poema de Sá de Miranda que além de complexo, ainda utiliza português arcaico nas duas últimas estrofes.
Pera aí ( como diz minha amiga Eli Eliete) o projeto é pro povo que nem sempre costuma ler poesia ou...? Não sei.
Acesso o Google e lá vejo quem são os dez poetas escolhidos: Augusto dos Anjos, Alphonsus de Guimaraens, Antero de Quental, Bocage, Camões, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Olavo Bilac, Sá de Miranda.
São 10 poetas, que maravilha! Que maravilha? Desses 10 apenas 3 são brasileiros: Alphonsus de Guimaraens, Olavo Bilac e Augusto dos Anjos , 7 são portugueses...
Desolada, penso que nunca nos livraremos do colonialismo. Nunca deixaremos de ser subservientes, de bajular o império que primeiro invadiu nosso país. Depois vieram outros, mas como dizem, o primeiro é sempre o primeiro.
Então, por que não colocar no metrô, onde 80%dos que viajam não curtem muito poesia, um poeta português? E sendo português, pra que trazer um contemporâneo dos bons que temos visto na internet e, e que lemos todos os dias aqui mesmo? Era preciso trazer um difícil, complexo, e ainda mais um poema com 2 estrofes com palavras em português arcaico...como quem diz:
"Ora o povo...O povo é apenas um detalhe”, que se lasque...vamos bajular os conquistadores!...
Aposto que quando surgiu esse espaço, os poetas que dele tomaram conhecimento, inflaram o peito e cheios de esperança, porque os poetas sempre têm esperança, pensaram em ter seus poemas escolhidos, e postá-los ar ali à vista de todos, mas cadê o espaço para eles, se nem para os contemporâneos famosos como Leminski, Ana Cristina César, Torquato Neto houve lugar?

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