quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A Capelinha de Helena Maria Osasco Risomar Fasanaro Fotos: Roque Aparecido da Silva

_ Fomos hoje Roque e eu visitar a capelinha de Helena Maria. Não se sabe quando ela foi criada, e sobre isso existem algumas lendas. Dizem que ali morreu um padre, outra que um escravo ia passando com um carro de boi quando foi assassinado. A partir de então amigos ou familiares do morto colocaram uma cruz, igual a tantas que encontramos pelas estradas do país. Em data não precisa, alguém construiu um pequeno abrigo para a cruz. E assim, ao longo do tempo, várias " capelinhas" abrigaram a cruz e a população passou a ver aquele local como sagrado e ali ia rezar e acender velas. Hábito que permanece até hoje. Embora a conheça desde adolescente, não sabia que sua última restauração, em 1994, é projeto doado à cidade de Osasco, pelo grande Oscar Niemeyer. Ela tem as curvas e a cor branca de todas as obras dele. É triste ver o que foi feito ali. No interior da capela paredes enegrecidas pelas velas que ali o povo acende, o lixo que toma conta de tudo, cobertor velho, sapatos, garrafas, papéis de todo tipo, piso coberto com a tinta que revela um pintor descuidado... E um Cristo pendurado na cruz testemunha toda essa sujeira, todo esse descaso. A parte externa mostra um “rodapé” também enegrecido pelas velas e seus respingos. Dizem que ali viveu um casal durante algum tempo, e até hoje serve de moradia para moradores de rua. Chegamos ao exagero de ver esta capela pintada de verde e vermelho, desrespeitando completamente o branco característico de Niemeyer. Obra tão importante até hoje não possui uma placa que a identifique e que a valorize por ser assinada pelo gênio da arquitetura. É lamentável constatar o desleixo a que está condenada essa obra de Niemeyer. Mais que desolador é revoltante . O poder público precisa tomar providências e a população do bairro precisa se conscientizar da importância desse monumento histórico. Tomar ciência de que ali não é lixeira, é obra criada por um gênio. Dos maiores arquitetos do mundo. O patrimônio da cidade precisa ser valorizado. Já sofremos muitas perdas, esperamos que a secretaria da Cultura não deixe mais esse monumento desaparecer...

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Minha poesia - Risomar FAsanaro

minha poesia tem cheiro de alecrim paredes de barro e pilão da casa de cosma minha poesia tem cheiro do ingá debruçado sobre o rio tem o som das cantigas que as lavadeiras cantavam batendo roupas nas pedras do rio jaboatão mais bonito que o tejo que pessoa cantou um sabiá cantava e cigarras paravam minha mãe batia bolo e a neve das claras formavam nuvens onde eu sonhava o cheiro de terra vermelha m mimaguas d seguem o curso de minha vida recife 2015

Quarentena Risomar Fasanaro

(Para Cira Cohenca e Vera Pontieri, com carinho) São duas amigas: Vera e Cira. Vera é cientista e está sempre lendo livros sobre ciências e esses dias comentando o que estava lendo, Cira se interessou pelo livro “Da Natureza”, em que a autora escreve sobre a vida de Humboldt e suas peripécias pelo mundo afora. Vera emprestou a obra à amiga. Cira é de família judaica, e todos são leitores compulsivos e, sabemos, o judeu é conhecido como “o povo do livro”. Muito feliz, Cira levou o livro e começou a lê-lo. E dali em dicante falou, falou, falou sobre a vida de Humboldt e de todas suas peripécias. Falou tanto que a família inteira queria ler aquela história tão fantástica. Para quem não sabe, a vida de Humboldt supera em muito a do personagem de “On the Road” (Pé na estrada) de Jack Kerouac. Apaixonante é o mínimo que se pode dizer dela. Mas, como toda delícia traz um pouco de sofrimento, o livro tem mais de 600 páginas. O filho de Cira, Dani, amante da natureza e das viagens tirara um ano sabático, e àquela altura estava saindo do Panamá em direção ao México num trailer que ele alugou para viajar pelo mundo... Nas mensagens via watsap Cira contava algumas passagens da obra para o filho. Não deu outra:Dani também queria ler o livro que, não se esqueçam, pertencia à Vera. A sobrinha que mora com Cira, também queria ler. Chiii...iria demorar muito para ela terminar de ler aquele volume. Mas Cira, inteligentíssima, pensou numa solução: serrou o livro e dividiu-o em três partes: assim que terminou de ler a primeira parte, passou- a para a sobrinha, e esta assim que a leu, enviou-a pelo correio para o primo que estava no México. A essa altura Cira já estava lendo a terceira parte. Passou a segunda para a sobrinha que se comprometeu a enviá-la ao primo. Só havia um problema: como dizer à Vera, dona daquele exemplar, que o livro se multiplicara em três? Cira me liga e pede socorro: estava procurando o livro em várias livrarias e não o encontrava. Será que eu acharia em alguma das livrarias de Osasco? Respondo que aqui, para desespero meu e da torcida do Corinthians , só existe uma livraria: a Saraiva, no Supershopping, todas as outras tinham fechado havia muitos anos. Vamos tentar, se tivermos sorte... Cira vem e vamos juntas à Saraiva. Depois de muito procurar, sim, lá havia dois exemplares. Compramos, ela devolveu o livro à Vera, mandou encadernar o que fora “estripado” e todos foram felizes para sempre durante a pandemia...

Júlia Lopes de Almeida, derrubando muralhas

Júlia Lopes de Almeida é o nome de uma escola, que fica no bairro de Rochdale, Osasco. Confesso que nunca li nenhum livro da escritora, apenas alguns textos nos manuais escolares. Tenho um amigo que sempre me presenteia com o jornal literário “Rascunhos”, de Curitiba, Paraná, e ontem, lendo um exemplar desse jornal, encontrei em Conversas Flutuantes, alguns dados sobre Júlia Lopes que me chamaram a atenção. Senti o tempo que perdi sem conhecê-la. Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida nasceu em 24 de setembro de 1862, no Rio de Janeiro. Além de romances escreveu crônicas, poemas, artigos para jornais, peças teatrais e foi ela a primeira escritora a publicar livros infantis no Brasil. Bem antes de Monteiro Lobato, Júlia e sua irmã Adeelina Lopes Vieira publicaram “Contos Infantis” em 1886, enquanto Lobato só veio a publicar sua primeira obra “A Menina do nariz arrebitado” em 1921. Júlia Lopes foi uma desbravadora das muralhas que toda mulher enfrenta na vida. Feminista, defendia em seus artigos a independência feminina, o divórcio, a abolição da escravatura e a República. Isso em uma época mais conservadora preconceituosa e machista ainda que a de hoje. Corajosa, ela abordou em suas obras o aborto, o estupro, e a falta de liberdade das mulheres. Foi a única mulher entre os organizadores da ABL- Academia Brasileira de Letras, mas não pode ocupar uma de suas cadeiras, porque seus colegas escritores não permitiram; como “prêmio de consolação” foi seu marido, o escritor português Filinto de Almeida, cujo talento nunca alcançou o da mulher, que ocupou a cadeira número 3 na ABL. Ela era demais para a sociedade em que viveu, por isso não recebeu apoio de nenhum de seus colegas. A injustiça praticada contra ela passou em branco. Grandes nomes da literatura: Arthur Azevedo, Machado de Assis, Olavo Bilac, Inglês de Sousa, João Ribeiro eram seus amigos, mas nenhum deles elevou a voz para defender sua entrada na ABL. Esta injustiça mancha a história da academia. Só em 2017 a academia reconheceu e se desculpou da injustiça que cometeu. Em seus romances a autora considerada realista com traços de naturalismo e por alguns denominada gótica. Extensa é a obra desta escritora que foi a autora que teve seus livros entre os mais vendidos em sua época. Destacamos: A Falência, romance, Ânsia Eterna, contos, A Isca e vários outros. Coerente com o que defendia, Júlia Lopes quando já não se interessava mais pelo marido, separou-se. No regresso de uma viagem à África, Júlia ficou doente de malária e faleceu em 30 de maio de 1934 no Rio de Janeiro. Risomar Fasanaro Bibliografia: “Rascunhos número 247 Google, Wikpédia, Youtube.