segunda-feira, 16 de abril de 2012

Alguns Haicais de Vera Lúcia Godoy

Trago hoje alguns haicais de Vera Lúcia Godoy, poeta osasquense que conta com vários livros publicados, entre eles "Haicai- Imagens para ver e sentir", livro artesanal todo ilustrado com xilogravuras do artista plástico Susumo Harada. Trata-se de um belíssimo livro todo construido artesanalmente página a página.
Eu confesso ser fã dos haicais de Vera Lúcia, poemas em que, a meu ver, ela melhor se realiza enquanto poeta.
A seleção dos haicais que aqui estão foi feita por mim. E quem sentir sede de outros, entre em contato com a autora e adquira o livro.
Além de poeta, Vera Lúcia é professora da rede municipal de ensino de Osasco. Com as crianças ela desenvolve um trabalho de releitura de poemas de autores consagrados, e já conseguiu que a prefeitura publicasse uma antologia com essas obras das crianças.
Lamentamos a autora não nos ter enviado uma foto sua, para que os leitores a conheçam.


Rodas quebradas
Tantos sonhos trincados
Perdidas ilusões.
*


Barco encalhado
Lágrimas sufocadas
Amor ausente
*


Romãs abertas
Beija-lhes as sementes
O sol de verão
*

Súbito a cerca
No caminho da vida
Limita o sonho
*
A lua banha-se
À noite, nua no lago
Só o salgueiro vê
*

Cerca farpada
Não tolhe a liberdade
Pra quem voa alto
*

Devolve o sonho
que levaste contigo
Naquele verão
*

Só o mar amigo
Compreende esta saudade
Murmúrios de dor
*

segunda-feira, 9 de abril de 2012

4 Poemas de Joaquim Belo



Joaquim Belo da Silva

Joaquim é Pernambucano, nascido no povoado Carvalho, município de Custódia, em 03 de agosto de 1946. É o terceiro filho, de dez irmãos, de Augusto Belo da Silva e de Julieta Januária da Rocha, depois Silva, ambos pernambucanos dos municípios de Arcoverde (o pai) e Sertânia (a mãe). Durante a infância morou nos municípios de Custódia, Betânia e Custódia, novamente; quando, aos 13 anos, a família se transferiu para Sertânia.

Sertânia era, naquela época, uma espécie de Atenas do sertão pernambucano: tinha cinema com exibições diárias, várias bancas de revista, ensino médio, nas modalidades - normal, técnico em contabilidade e clássico - embora não tivesse o curso científico. As famílias da cidade mantinham a tradição de enviar os seus filhos para a capital do estado, para fazerem o curso superior; razão pela qual, nas férias, existia muita troca de experiências entre os universitários e os estudantes de nível médio que ainda estudavam na cidade. Além disso, muitos profissionais da cidade se formavam e permaneciam na região, continuando com a transmissão e a troca de informações. Em razão disso, os alunos locais tinham uma grande participação na política estudantil.


Joaquim Belo ladeado pelo irmão Antonio e pelo genro Josias.
Note-se a situação incômoda de Joaquim, forçado pelo irmão a vestir a camiseta do Payssandu...



Joaquim foi um deles. Participou de grêmios estudantis, de congressos em cidades de todas as regiões do estado, editou jornais, tomou cachaça, jogou futebol e tudo o mais que um adolescente na década de sessenta tinha direito. Sabe-se que naquela ocasião - pré-golpe militar - as opiniões eram muito polarizadas e Joaquim nunca foi de ficar em cima do muro. Por isso mesmo, chegou a ser detido pelo comando militar de Arcoverde, e prestou esclarecimentos aos militares, juntamente com seu irmão Manoel, três anos mais velho. E a coisa só não ficou “preta” por conta da interferência de um político local, aliado ao regime de exceção que se iniciava, mas que era amigo da família. Na ocasião, Joaquim ainda não tinha completado dezoito anos.

Depois disso, em 1967 começa a trabalhar e parte para o Recife acompanhando a empresa e com o objetivo de terminar o ensino médio. A partir daí trabalhou no ramo da engenharia rodoviária, sempre em localidades diferentes, até se aposentar. Hoje é microempresário do ramo da engenharia e reside em Belém do Pará.

A poesia entrou na sua vida através de leituras e por ser uma “doença” hereditária da família. O “Seu Augusto” escrevia poesias, apesar de não ter freqüentado escolas e tendo aprendido a ler com as sua tias. Os seus irmãos também cometem o mesmo pecado da família, razão pela qual pretendem escrever um livro de poesias, reunindo todos os membros que se dispuserem a participar.

(Esta e uma biografia não-autorizada, escrita por seu irmão Antonio Belo)


Biblioburro

Monteiro Lobato dizia
Com muita convicção
Que é com homens e livros
Que se faz uma nação.

Para formação do homem
É a cultura essencial
E para se ter conhecimento
O livro é fundamental.

Mas para adquirir um livro
Precisa muito dinheiro
É um objeto de luxo
Para o povo brasileiro.

Para difundir a cultura
Nos confins do sertão
É preciso ter postura
E muita imaginação.

Vi no facebook um foto,
Que me chamou atenção,
Um cara muito devoto
Cheio de imaginação.

Trazia no seu jumento
Uma carga preciosa
Dois caçoa de livro sebento
De verso, romance e prosa.

Essa biblioteca ambulante
É pra chamar atenção
Com o descaso reinante
Em nossa educação.

Belém, 01/04/2012Sou Custódia sou saudade.


Sou Custódia sou Saudade

Sou Custódia, sou saudade
da praça Padre Leão
Das festas do padroeiro
e das noites de São João.

Sou Custódia sou saudade
Da vila de Quitimbu
Macaxeira e carne de sol
Cachaça boa e caju.

Sou Custodia sou saudade
Das festas de arraia
Da banda de pau e corda
Do maestro Zé bia.

Sou Custodia sou saudade
Da missa lá na matriz
Do sitio de dona auta
Do banho no chafariz.

Sou Custodia sou saudade
Da fazenda umbuzeiro
Comer buchada de bode
Na sombra do juazeiro.

Sou Custodia sou saudade
Da vila da samambaia
Com um toque de maravilha
Toca Pedro Maravalha.

Sou Custodia sou saudade
Com vontade de voltar
Correr num cavalo de pau
De caiçara até ingá.

Sou Custodia sou saudade
Da música solta no ar
A voz de duas Américas
Que animava o lugar.

Sou Custodia sou saudade
Dos campos de muçambê
Do cheiro do marmeleiro,
Do canto do zabelê.

Sou Custodia sou saudade
Dessa lembrança constante
atrás do tempo passante
que não retorna jamais.





Minha Estrada


Deus projetou minha estrada
Com muitas curvas e retas
Deixou-me exemplos de vida
Para atingir minhas metas.

Botou também no caminho
Muita subida e descida
E uma paciência de Jó
Para curar as feridas.

Juntei ao seu meu caminho
Como as águas das três ribeiras
Correndo devagarzinho
Nos lados das ribanceiras.

Fizemos das nossas outras vidas
Pra continuar a viagem
Pavimentamos os caminhas
Para espalhar a linhagem

Venci todos os obstáculos
Com garra e persistência
Mas só vou parar a viagem
Quando Deus me der a licença.

Belém, 02 de julho de 2007.

Atrás do tempo passante
Que não retorna jamais.

Belém, 13\11\2009.

Passageiro do Tempo

Sou passageiro no tempo
Que o vento da saudade levou
Nas veredas do pensamento
Para um tempo que já passou.
Para minha geração futura
Não esquecer o passado
Fui buscar no presente
Futuros antepassados.
Para gravar na memória
Fui ao sítio dos Robertos
Lá na pequena Custódia
Viver de perto a história.
Uma casinha no carvalho
Que a cor o tempo mudou
Como gota de orvalho
Uma lágrima rolou.
E no meu eu de criança
Foi Betânia a emoção
Onde criei a esperança
E cultivei a ilusão.
Sertânia foi a adolescência
A essência da razão...
E vi a vida como triângulos
Que é vista de vários ângulos.
Mas de repente... As sementes
Na cronologia do tempo
Brotam de outras sementes
Para não se perder no tempo
Passado e presente se fundem,
Presente e futuro se confundem
Da vida me resta no peito a esperança
Na mente em festa o resuma das lembranças...

Joaquim Belo da Silva 6 de Abril de 2012 23:29
Belém - Pará, 05/04/2012.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

3 Poemas de Antonio Belo




SER PROFESSOR
“se não fosse Imperador, gostaria
de ser professor, pois não há função
mais nobre que a de dirigir as inteligências
juvenis e preparar os homens do futuro”
D. Pedro II


Ser professor nesta vida
Não é profissão de festa:
Diários, papéis, planejamento
É tudo que a gente detesta

Mas,
Ensinar a viver
“Sem rodeios, sem aresta”
Não é fácil de fazer!
É o prazer q’ inda nos resta...




O Fim do Mundo - João Cabral de Mello Netto
No fim do mundo melancólico
os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.

Me deram uma maçã para lembrar
a morte. Sei que cidades telegrafam
pedindo querosene. O véu que olhei voar
caiu no deserto.

O poema final ninguém escreverá
desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa
O sonho final.




O Ciclo do Tempo Antonio Belo

Como é bom ter a idade do tempo!
Tempo que passa
Mas não flui...
Tempo que só argumenta
Mas não conclui...

Eu sou como o tempo
Que nunca passou
O Passado e o Presente
Que o Futuro deixou
Ah, quem me dera voltar!
A ser o que sou...
07.07.2011
23:30h



Juizo Final

Não precisamos mais temer
O fogo do inferno
Todos vão queimar
Por conta do aquecimento global
Puta, juiz e advogados
Esses, principalmente
aluno e professor
Padre, comerciante
Pastor e delinquente,
Você e o promotor
Pois o homem criado
À imagem e semelhança
Do seu criador,
Com a sua "inteligência"
O juizo final
Antecipou
**