segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Vento do amanhecer em Macambira- Antonio Belo

A primeira vez que li "Vento do Amanhecer em Macambira", foi em 1967. Naquela ocasião, tal como agora, fiz uma leitura contínua e li todo o livro. Não é muita coisa em termos de volume: oitenta páginas de uma narrativa densa e fluente que prende o leitor do início ao fim, não deixando margem para interrupções. Eu, nordestino, sertanejo, senti-me totalmente identificado com o personagem: tornei-me engenheiro e decidi que se tivesse uma filha ela se chamaria Lívia; desejos esses, que consegui realizar. Somente para efeito de aferição de tempo; na leitura de hoje, consumi apenas o conteúdo de duas latas de cerveja, sem ir ao banheiro uma única vez...
O universo onírico do livro retrata um nordeste (sertão) que já não existe mais, coisa que o meu amigo e poeta Alberto Oliveira, com muita propriedade, já falou; mas que pode ser reencontrado, por exemplo, na poesia do Zé Marcolino ou em Jessier Quirino; esse, em tempos atuais.
É claro que, só quem viveu no nordeste pode sentir a densidade narrativa do autor: dá pra sentir o cheiro das velas nas igrejas, bem como o cheiro do mato após a primeira chuva, ou o da poeira na ausência dela.
Isso é ser saudosista? Pode ser...mas, o que vem a ser "saudade"?
Em torno dessa palavra é que se desenvolve toda a magia do livro: O personagem teve um amor na adolescência, cuja lembrança insiste, teimosamente, em voltar; num crescente que implicava em questionar sua própria opção de vida. O velho dilema: " o que sou,o que fiz, o que serei?". "por que é que eu também não fui feliz?" O destino não quis? Ou sou o resultado do que eu próprio escolhi?
A saudade é algo que não se pode traduzir. Não existe sequer no dicionário português (de Portugal). Seria a saudade um sentimento exclusivamente dos brasileiros? Por que será? Um dos momentos mais intrigantes do livro é quando aquele bêbado diz: "Estive pensando no que me disse. Sobre aquela história da gente sentir saudade”... (reticências minhas).
Mas, como definir saudade? Lembrança, somente, não satisfaz. Pois, como disse o poeta Pinto do Monteiro: "Saudade de quem está perto, não é saudade, é lembrança; saudade só é saudade quando morre a esperança".
Basicamente, a lembrança é tudo que envolve um passado, vivido ou não, que a gente recorda e que pode envolver pessoas, tempos, lugares; coisas boas ou ruins, coisas daqui e dali.
A saudade, por outro lado, é o sentimento da tua falta; agora, aqui!
Leia o livro e sinta o que quero dizer.

domingo, 27 de novembro de 2011


“Vento do Amanhecer em Macambira”

O que mais fica na gente
é a sensação das coisas
inacabadas
(risomar)
Enquanto ouço as “Bachianas” de Villa Lobos releio “Vento do amanhecer em Macambira” de José Condé, presente de meu amigo Antonio Belo. São apenas oitenta páginas: um tesouro.
Ouvir música instrumental enquanto leio ou escrevo é um hábito antigo, e não poderia escolher trilha sonora mais adequada. Não sei por quê. Não conseguiria explicar.
Nunca havia lido nada do Condé e a primeira sensação é de deslumbramento. Nenhuma palavra a mais, nenhuma palavra a menos neste romance denso, em que dois polos se opõem: o passado e o presente, a cidade e o sertão, o que se teve e se perdeu.
Um homem vai em busca de um grande amor que ficou no passado, mas não consegue resgatar nem a paisagem, nem a mulher, e na verdade nem ele mesmo, que hoje é outra pessoa, e tudo que pertencia àquele mundo que ele busca está morto.
Na pequena vila um bando de cangaceiros ameaça a calma da cidade, assim como as lembranças ameaçam a vida do engenheiro. Seria ele a mesma pessoa se reencontrasse Lívia?
Ou seriam os cangaceiros uma metáfora do tempo, esse senhor que tudo devora?
Constatamos neste belíssimo romance a força da imaginação de uma pessoa que ainda guarda lembranças de alguém, e que por isso é capaz de trilhar o tênue fio que separa a lucidez da loucura e materializar o ser amado.
Lívia no romance simboliza aquele sonho inacabado que se perdeu ao longo da existência de muitos de nós, e que a vida inteira iremos buscar em um rosto, um jeito de sorrir, o modo de olhar. Busca inútil. A imaginação preenche as lembranças do que, na verdade, é irrecuperável.

E como tão bem disse Bandeira: “a vida inteira que poderia ter sido e que não foi”. Ou como diria Drummond: Lívia “é apenas um retrato na parede”.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Belo, BELO é tecer palavras, é fazer poesia...Risomar Fasanaro

20 de novembro de 2011




Algumas vezes o destino brinca de esconde-esconde com a gente. Alguém nos fala sobre uma pessoa e você não se liga, não dá a mínima importância, não procura conhecê-la, nem sequer faz perguntas sobre ela.
Os anos passam, e um dia, inesperadamente você conhece a pessoa, assim, sem perguntar, sem procurar...Alguém chega perto de você e diz: este é fulano, irmão de fulana...
E você sente o puxão de orelha do Destino colocando diante de você aquela pessoa que será tão especial na sua vida. E você vai descobrir quanto perdeu por não ter conhecido antes quem tem tanto a ver com você.
Descobre que ela ama os índios tanto (ou maquis ) do que você, que se preocupa com os desfavorecidos, que se interessa pelos mesmos assuntos, e que tem aquela espontaneidade, aquele bom humor que você tanto admira, e que de brinde traz até você outras pessoas, e neste caso que estou contando, que é pessoal, o Destino me trouxe um amigo que parece que conheço há cem anos, e de quebra dois poetas.
Como não sou egoísta, divido com vocês os poemas dos dois irmãos, Antonio e Joaquim,e futuramente escreverei sobre meu novo Amigo, Paulo Roberto.
ATENÇÃO: Atendi hoje o desejo de vários leitores que me escreveram querendo daber quem era esse Poeta que gosta de João Cabral e escreve tão bem.








Queria mostrar que não só ele é artista na família, mas que há também JOAQUIM BELO, que vai surpreender vocês, tem PAULO ROBERTO, também poeta e INEZ OLUNDÉ,artista plástica.FUI TRAÍDA PELO ESPAÇO RESTRITO, NÃO PUDE POSTAR A FOTO NEM OS TEXTOS DO jOAQUIM, QUE FICAM PARA A PRÓXIMA SEMANA, talvez por incompetência minha em lidar com a diagramação do Blog. Sim, falta dizer que, modéstia à parte, todos são pernambucanos...rs
Antônio Belo da Silva (na prática, sempre dispensa a acento), nasceu em Custódia, Pernambuco, em 09 de julho de 1948; porém é registrado como nascido em Sertânia, cidade de sua mãe e onde viveu os melhores anos de sua vida. É filho de Augusto Belo da Silva e Julieta Januária da Silva. É o quarto de dez irmãos, dos quais, nove continuam vivos. Viveu até os dezenove anos no interior do sertão de Pernambuco, tendo-se mudado para Recife em início de 1968, para fazer o terceiro ano científico. Cursou engenharia civil na Universidade Católica de Pernambuco (1970-1975) e trabalhou na profissão até 1998, quando se aposentou. No entanto, ainda trabalha, sendo perito criminal e professor do ensino médio (ambos através de concurso público) no estado do Tocantins, onde reside desde 1991. A poesia entrou na sua pauta por acaso. Apesar de gostar de poesia, nunca pensou em escrever, o que somente veio a ocorrer depois dos 30 anos, mesmo assim, esporadicamente. Além de literatura, gosta e admira pintura e música, embora não tenha o dom para a prática dessas artes. Escreve crônicas, poesias e está "ensaiando" escrever uma peça teatral há uns doze anos e nunca tem tempo de concluí-la. Está no terceiro relacionamento conjugal e tem cinco filhos "espalhados" por esses relacionamentos afora... A mudança para o Tocantins deu-se em virtude de trabalho como engenheiro rodoviário, pois o estado estava sendo criado e as estradas eram precárias.

Além de engenharia civil, fez uma Complementação Pedagógia em, Licenciatura em Química (2001/2002), pela Universidade do Tocantins - Unitins e uma Especialização em Metodologia do Ensino Superior - Unitins - 2007/2008, em Palmas-TO.

A mudança para Palmas deu-se por motivo de transferência na função de Perito Criminal, em virtude da qualificação como engenheiro, para a Seção de Engenharia Legal e Meio Ambiente, em virtude da carência de profissionais engenheiros no quadro de peritos do Instituto de Criminalística do estado do Tocantins, pois o concurso dá prioridade da formados em Direito, mesmo em detrimento à qualidade dos serviços periciais. Tenho dito!!! (olha a concordância hein!!!, o texto está na 3ª pessoa!!!). Mas, “Tem dito” não tem a mesma força...







A linguagem do olhar

A linguagem do olhar
Não é coisa desse mundo
Pode nos levar às estrelas
Ou ao abismo profundo.

Não é um idioma
Nem um “fato consumado”
Mas quem lê nas “entrelinhas”
Antecipa o resultado.

O olhar, é o espelho da alma...
Representa aquilo que desejamos fazer
Mas não ousamos dizer...

A magia do olhar
Não está em decidir,
Mas, sobretudo, em sonhar.

03.08.07
00:03h


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Show de Ringo Star Risomar Fasanaro




À porta do Credicard Hall nos preparamos, minha amiga Cira e eu, para viver a grande emoção de assistir ao show de Ringo. Vamos ficar 1:30h esperando que as portas se abram para entrarmos, mas não sinto o menor desânimo, o menor cansaço. Vou rememorar um pedacinho da minha juventude, mesmo sabendo que Ringo tocará poucas composições dos Beatles. Mas antes pouco do que nada, penso.
Uma juventude bonita divide o espaço com a geração dos anos sessenta. Quase todos vestem alguma peça em homenagem ao Ringo, a estrela da noite. Às 19 h abrem as portas e podemos entrar no saguão. Encontramos algumas poltronas e logo fizemos amizade com duas adolescentes, Rafaela e Priscila, que pela segunda vez vieram ao show do ídolo.
Rafaela trouxe uma estrela prateada e um cartaz onde pergunta se ele leu a carta que ela jogou sobre o palco, na noite anterior. Priscila também trouxe um cartaz. As duas declaram seu amor ao ex-Beatle.
A paixão de Rafaela pelos Beatles começou com um trabalho que a professora de inglês pediu sobre os Beatles, nos conta Rafaela, que cursa o ensino medio. A garota pesquisou tudo que encontrou e, é claro, a pesquisa lhe rendeu muitas conversas com a mãe que é fã dos Beatles até hoje.
Fotografamos as duas, e sem que percebêssemos já era hora de entrar e esperar o show.
Ringo Star acompanhado pela All Star Band empolga a plateia que logo se levanta e começa a dançar.
“With a litlle help from my friends”, “Is Don’t come Esy”, são alguns dos sucessos que eles apresentam, mas o que leva a plateia ao delírio é Choose Love”, que o público canta com eles.
Ringo esbanja carisma e simpatia, muito sorridente lê os cartazes que as fãs levantam na plateia: Ringo eu te amo. Sorrindo muito, ele responde cada pergunta, cada declaração, para alegria delas.
Champagne e vinho branco circulam pela plateia. O show está terminando e procuro as duas adolescentes: estão lá na frente, perto do seu ídolo. Quem sabe até consigam falar com ele. No final do show. Quem sabe? Para os jovens, nada é impossível.
São Paulo está naqueles dias em que todas as estações se confundem. Não há calor nem frio, não chove. Enquanto caminhamos até o estacionamento, penso em Ringo, o único Beatle ali no palco, e vou deixando em meus rastros as lembranças do tempo em que colecionava todos os LPs dos Beatles, tentava traduzir todas as letras do grupo, e era tão jovem que pensava que tudo era para sempre.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Meu Caminho - Antonio Belo da Silva

Se um dia
Eu tiver que ceder
Aos caprichos do destino
Chegou a hora,
Podem crer!
A hora de tocar o sino.
Que com certeza não melhora
A parte que por instinto
Forçou-me a percorrer
Metade do meu caminho.
A outra metade eu fiz!
Cometendo ou não, desatino.

Só conheci Pernambuco
Depois de ler João Cabral
Coisas do arco da velha
E da nossa tradição
De Capiba, do Quinteto
E da Orquestra Armorial

Se na minha geração
Eu não comi fruta-pão
Abundante no litoral
Mas, ausente no sertão
É que a charque era pouca
Mal dava pra acompanhar
A cachaça com limão.

Não me banhei
No Rio Capibaribe
Ou águas do litoral
Só em rios de água pouca
Daqueles que,
Sem embornal,
Um burro seca com a boca.

Não percorri os canaviais.
Pés descalços não pisaram
As pedras úmidas do cais...
Só caminhei terras secas
Ausentes de coqueirais
Areias brutas que furam
Como facas e punhais!
As armas dos cangaceiros
Do nordeste e das Gerais
Daqueles tempos distantes,
Que não voltam,
Nunca mais...

Caminho de pedra e areia
E, não raro, de espinho.
Por isso, exijo respeito:
Eu não fiquei,
Estou indo!
E se desacompanhado
Vou seguir,
Mesmo sozinho. Palmas, 20/12/2006 ( 01:12h)