domingo, 15 de julho de 2012

Antonio Belo: 4 poemas e uma crônica


Metamorfose

Quando amanheci
Me convenci
Que “aquilo” não era eu
Fui consultar os oráculos
Mas nenhum me convenceu...

Cabeça de leão,
Corpo de águia,
Destino de Prometeu?

Ou, quem sabe,
De Cervantes,
Herdei o que era meu...
Coração dilacerado
Procurando o que perdeu
**O Mar e as Rosas

O perfume das rosas,
Tem vida efêmera.
Como o amor,
Só duram uma noite:
Aquela noite que faltou

Quantas noites não vividas
E outras que nunca virão
Como aplacar o desejo?
Latente no coração...

Do outro lado do mar
Rosas me esperam
Rosas mudas,
Rosas flor?

Ou em buquês
Prá disfarçar
O cheiro de morte
A morte do amor
13-06-2012
                                                     
A Felicidade é um mistério:

Impossível penetrar.

é a distância entre o real

e o virtual

medida em escala

infinitesimal.

Imaterial, não se encontra em bazar

mas tem um preço

o qual não posso pagar.


O Último pacote

             Aquele pacote queimou-me as mãos. A Josi ligara dizendo: Belinho, tem uma encomenda para você, pode passar aqui? Sabia do que se tratava, quase lhe conhecia o conteúdo: Cds, Cds, Cds. Música da melhor qualidade e o dicionário digitalizado, de Antonio Houaiss, que iria me ajudar no entendimento das novas regras de ortografia e gramática com as quais deveria preparar-me para a tarefa, tantas vezes adiada,  de escrever um livro...
              Pensei: para que vou aprender tudo isso? Essas regras têm um período de carência de dez anos para entarem em vigor. Dez anos...é muito tempo! Será que estarei vivo até lá?  Será que em dez anos não teria concluído o tal livro e, assim, dispensaria o entendimento das tais regrinhas? Conformei-me; ou melhor: desesperei-me! Se até aos sessenta e quatro ainda não escrevera nada que prestasse, como esperar que em apenas dez, conseguisse? Sem querer, estava utilizando-me da Lei de Relatividade. Pois o tempo nem é curto nem longo, depende do que se planeja fazer....acho melhor aprender as tais regras, posso precisar delas. Entretanto, vou entrar com uma ação indenizatória contra, contra, contra quem? Afinal, eu perdi tantos anos estudando as regras antigas para agora não servirem para nada?  A presidenta que me aguarde...
              Mas, o pacote? Ah, o pacote. Passei na seção após o almoço e o peguei. Não tinha ninguém na sala. Levei-o embaixo do braço para o meu local de trabalho, lá é que deveria abrí-lo, longe da presença de curiosos. Estava em pânico. Como abrir aquele pacote, sabendo que seria o último? Veio-me à memória o poema do Joaquim Cardozo: "A Visão do Último Trem Subindo ao Céu", que relera recentemente. Por que não deixá-lo do jeito que estava; assim, adiando aquela ruptura de um relacionamento que mal começara, mas que tinha sido tão intenso? Olhei a data: o carimbo dos Correios indicava cinco de junho. Hoje é doze. Ou são doze? Meus Deus, parece que preciso mesmo das tais "Novas Regras" da Língua Portuguesa...
               Pois é, em apenas sete dias, quanta coisa mudou.  É certo que, a apenas dois dias da postagem, senti nas "entrelinhas" que algo mudara. Aquele ultimato estava bem claro: "não posso esperar quatro, seis anos...meu tempo se esvai. E se eu arranjar companhia, um namorado, será bom para você?"...
              Aquilo deixou-me apavorado, perplexo. Sabia que quando ela tomava uma decisão era prá valer. Foi assim o fim do primeiro casamento, conforme li no seu livro autobiográfico; e em outras decisões igualmente difíceis. Pensei: o que é que eu vou fazer? Pensei pior: se já não houvesse nada a fazer?  Cobrança nesse sentido já tinha havido, é certo, mas nenhuma com aquele veemência e aquela condição apavorante. Será que já não tem? Pensei e me angustiei. Chorei aquele choro rouco e desesperado dos que se sentem traídos, dos que perderam tudo, até a esperança de vida...
               Minha resposta fora breve, lacônica e mordaz. Afinal, até aquele momento, ainda me sentia seguro, senhor de mim e de um fascínio que julgava possuir. Ledo engano. Nos dias seguintes, nem uma resposta, o mais absoluto silêncio...
               Enfim, quando recebi aquele telefonema, comunicando a chegada do pacote, sebia que seria o último; o fechamento de um ciclo que não se fechou, de uma vida que não vivi, de uma paixão que não se apagou.
                                                                                Palmas, 12 de junho de 2012

 A oitava nota

Não importa a nota
em que Mi tocas
Dó Ré ou Fá,
Prá Lá da clave de Sol,
em sustenido ou bemol...
Si não existe,
Eu invento!,
A nota Ti ...
O que importa:
és a canção
que Mi toca o coração...

Antônio Belo
Araguaína-Araguatins,
10/11.07.12

domingo, 1 de julho de 2012

6 Poemas do poeta Alberto Oliveira



CERTOS HERDEIROS
Alberto Oliveira

Lembras do carro de boi
Das cantigas de cocão
De um tempo que se foi
E de um certo baião?
O que escuto hoje em dia
É rima sem poesia
E os versos sem beleza...
No céu Zé Dantas calado
Marcolino envergonhado
Luiz Lua na tristeza.

Não te desejes primeiro
Do sonho e da vastidão
Usa o sentido e razão
Não digas eu sou herdeiro
É difícil essa jornada
Muito longa a caminhada
Para um baião inventar...
As loas metrificadas
E rimas sem dizer nada
E um baião a faltar.



Tu te lembras do cocão
Carro de boi pela serra?
Segue nessa direção
E chega ao meio da terra
Tu vais encontrar ali
Beija Flor e Maturi
A carregar meu baião...
E um carreiro feliz
Tangendo a própria raiz
Da toada do meu chão

***
AMIZADE
I
Amizade não comporta
Caminhar numa só via
Lembrança dum negro dia
Nada disso ela suporta...

II
Amizade não tem porta
De saída ou de entrada
Amizade é como estrada
Pra se caminhar a dois...

III
Pra num futuro depois
Vir saudade da jornada...

IV
Amizade não precisa
De afago e de carinho
nem que se mostre o caminho
do sol, do mar e da brisa
Ela é concreta e concisa...

V
Um gesto deseducado
No presente ou no passado
Afastará para um lado
Amigo de toda hora
O fim será no agora
Um do outro separado...

VI
São duas vias somente
Que cabem na amizade...

VII
Compreensão, lealdade
E um ao outro se dar
Sem ter pressa de cobrar
A paga acaso devida...

VIII
Só assim a nossa lida
Terá sentido e razão
Navegar não foi em vão
Pelas trilhas dessa vida!

AS CRIANÇAS E AS PLANTAS


As crianças são anunciadas pelos ventos...
E chegam à vida,
cavalgando o corcel do sol.
São anunciadas também,
pela chuva fina, que prenuncia a lua
e fecunda a terra.
Ao chegarem,
enchem de amor e prazer,
o coração dos Pais. E dos Poetas.




O CORDELISTA
Na mente crias as imagens
Arruma por um momento...
Matuta no pensamento
As mais diversas paisagens
E assim nessas viagens
No oficio a trabalhar
No papel vai anotar
Com lápis firme na mão
Traz o céu bota no chão
Põe o mundo pra girar!
***

O Artesão
Com as mãos molda as imagens
A madeira é seu tesouro
Com os dedos passa o ouro
Do tronco sai mil miragens
E assim nas engrenagens
Oficio da criação
Pra ele o verso e canção
E meu profundo respeito
Só sei dizer desse jeito
A minha admiração.
***

Quem é Alberto Oliveira

Alberto Oliveira nasceu em Caiçara, Paraíba. É casado, tem duas filhas e três netos. Mora no bairro do Derby, no Recife.
Consultor dos Projetos Livraria Expressa, Biblioteca Expressa, Cordel no Meio do Mundo, Plantando Sementes e Cultura da Terra.
Sólida experiência na área de organização e métodos, comando de equipes e desenvolvimento de Projetos na área cultural. Escritor e Poeta.
Experiência Profissional
1965 a 1995 – Colaborador do Banco do Nordeste do Brasil S/A, onde exerceu as mais diversas funções.
Desde 1995 – Atuando exclusivamente na área cultural, onde já desenvolveu diversos Projetos. Dentre eles, merecem destaque: Livrarias Expressas, Cultura nas Escolas e Universidades, Luz no Verso, Cultura da Terra, etc...é o Coordenador do grupo UZYNA CULTURAL.
Autor de Livros e Cordéis, merecendo destacar: Sertão Despedaçado e Pelas Trilhas do Repente no Nordeste Brasileiro. Fez parte do grupo musical A uZyna, com 01 CD lançado em 2006: Cantigas de Sertões.