domingo, 7 de julho de 2013

O Brasil nas Ruas- Paulo Roberto da Silva


Os únicos lugares que ainda não foram colonizados são as ruas (Boaventura de Sousa Santos)

Uma sensação emocionante tomou conta das ruas do Brasil nesses últimos dias reacendendo a velha máxima que diz: ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição biológica. O vinho novo sempre vem arrebentando os odres velhos e o remendo novo detonando a velha calça azul e desbotada, já dizia Jesus. Não quero chover no molhado analisando a postura mutante e reacionária da grande mídia, que como um camaleão, assumia a forma ambiental que lhe era favorável, destacando mais os pontos negativos do que os verdadeiros anseios do povo por um Brasil mais justo e fraterno. Incutindo o medo como um instrumento de paralisação.
Chamou-me a atenção um recado de uma jovem cristã que foi a uma das grandes marchas no Largo do Batata e me segredou: pastor eu fui escondido para não levar bronca. Bronca dos pais ou bronca dos pastores? Fiquei feliz pela sua coragem de sair das quatro paredes da Igreja e gritar nas ruas que o povo acordou em uníssono com milhares de outros jovens.
Os “vândalos” de ontem são os heróis de amanhã, alguns até com feriado em homenagem ao seu nome, quem diria que a Casa Branca teria um presidente negro? Foi necessário uma negra insubordinada se recusar a levantar-se da cadeira para dar lugar a um branco racista. Rosa Parks deu a deixa para Martin Luther King “sonhar” com um mundo sem discriminação e sua Igreja antenada com o Deus da libertação, marchou sobre Washington no meio da multidão de 250 mil pessoas em uma época que não tinha Facebook, Twitter e outras redes sociais de grande velocidade de mobilização.
Fiquei me questionando por que as Igrejas colocam tantas pessoas nas ruas na Marcha para Jesus, como se Jesus estivesse necessitando de apoio, em perigo, precisando de Ibope, e numa marcha pela vida, pelos direitos e pela justiça quase que não se enxerga a Igreja, a não ser algumas pessoas que por conta própria tomam a decisão de sair para colocar sua fé em ação? Graças a Deus que o Espírito Santo sopra fora dos arraiais eclesiásticos, comprovando as palavras de Jesus: Se os meus discípulos se calarem, até as pedras clamarão!(Lc. 19.40).
Termino bebendo em Isaías que soube perceber o poder de manipulação dos ideólogos do seu tempo ao dizer: Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal, que fazem do amargo doce e do doce amargo, da luz escuridão e da escuridão luz. (Is. 5.20) Isso me faz enxergar porque os mapuche que estão nas ruas de Angol, Santiago, Concepção, Valdívia e tantas outras cidades do Walmapu (Chilena) são tratados como terroristas e o Sebastião Piñera uma das maiores fortunas do país seja colocado na presidência. O mesmo princípio o bispo Marcelo Crivella quer aplicar no Brasil a lei antiterrorista para criminalizar os Movimentos Sociais. Se aprovada, os representantes indígenas que tomaram a Câmara dos Deputados no mês de abril poderiam ser enquadrados como terroristas e serem presos. Isso me faz perceber porque os Estados Unidos, a “Besta” da atual Babilônia dá uma ordem para França, Portugal e Espanha impedir que um presidente latinoamericano, Evo Morales seja impedido de circular nos referentes espaços aéreos com a suposição de está levando a bordo um jovem acusado de revelar o terrorismo do Estado em invadir a privacidade de milhões de pessoas no seu próprio país e no mundo. Com certeza se Jesus estivesse vivo e atuante fisicamente falando, seria tido como terrorista, vândalo ou baderneiro ao invadir o Templo (Casa da Moeda) e expulsado os capitalistas com extrema violência, ou seria preso por desacato à autoridade ao chamar Herodes de Raposa. Tem um ditado africano que diz: a história sempre foi contada pelos caçadores, chegou a hora de ela ser contada pelos leopardos. Que venham os novos “vândalos” corajosos derrubando os símbolos do deus mamon que é adorado no mundo inteiro, inclusive por muitos cristãos hoje. Disney, Shopping centers e Papai Noel não me deixam mentir.
“Ou defendemos a vida onde ela está sendo esmagada, ou devemos ter a coragem de não pronunciar o nome de Jesus Cristo”.
Paulo Roberto da Silva