segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Homem do Sertão-Joaquim Belo


Antonio e Joaquim Belo - Dois irmãos, dois Poetas

Quando Deus criou o homem
Para viver no sertão,
Mudou a essência da fórmula
Da primeira criação...
Não usou o barro mole
Com o qual moldou Adão
Fez de quartzo, feldspato e mica,
Extrato da rocha, granito
Para suportar o sol, a seca e o atrito...

Para sobreviver na região
Não basta oração e fé
Tem que ter o couro feito de jacaré
Agilidade felina, astúcia de leão,
Saber esquivar do perigo igual a camaleão.
Aprender a conviver com a morte,
Ás vezes, até invejar a sorte,
Daquele que já morreu...
Onde havia os campos verdes
No grande sertão de outrora,
Aurora do mais belo amanhecer,
Que descia planalto ao pé de serra...
E do baixio ao chapadão...
Hoje, nada mais é do que,
Um raio xis daquele chão...
restos de mata queimada,
Rastos que a chuva nunca apagou...
Fumaças negras que saem do chão,
Das cinzas carbonizadas,
Nas caieiras de carvão.
São léguas e léguas de areias salinizadas,
Nascente de riachos que já não brotam,
Grota, vala, maçaroca e erosão...
Realidade dura que a natureza chora,
Morte prematura da fauna e da flora...
Mais um deserto em formação...
Uma tristeza emana das faces nordestinas...
Saudade do arvorar dos pássaros nas campinas...
A certeza das mortes que se espalham no chão...
Com os voos rasantes das aves de rapinas.
Restos de seres se cruzam a todo instante
Seres de rostos e vozes dissonantes...
Que alguns chamam de peregrinos,
Outros de retirantes...
Ambulantes anônimos, sem nomes.
Sem sorte, sem rumo, sem norte...
Aqui, o nome que se conhece é da fome,
E o rumo que se conhece é da morte.
Era a chuva que fazia do sertão o paraíso.
Pois, do pouco que se colhia...
Se sustentava a família
E ainda sobrava dinheiro...
Para pagar o aluguel
Das terras dos fazendeiros...
Mas quando falta o inverno,
O sertão vira o inferno,
Que Dante não escreveu...
Rondonópolis/MT, 20/01/2013.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Forró em Caruaru                                              Antonio Belo da Silva

Essa aconteceu em Paraíso do Tocantins, entre os anos de 1999 e 2000. Meu irmão Paulo estava de passagem para São Paulo e passou uma semana comigo.
Nesse meio-tempo, entrou em contato com o nosso irmão mais novo, Carlinhos, e combinaram vender camarões para um conhecido restaurante que havia em Palmas: “O Caranguejo”. Tudo acertado, o Carlinhos mandaria um isopor repleto de camarões, de Belém, pelo ônibus da Transbrasiliana; e nós, receberíamos na rodoviária de Paraíso. Já estava acertada a venda ao restaurante.
Aconteceu que o ônibus atrasou – coisa muito difícil de acontecer, não é mesmo?... – e estivemos várias vezes no Box da Transbrasiliana, pedindo informações sobre o horário da chegada. Até mesmo, preocupados com o tempo de viagem; pois camarão é um produto que se estraga com muita facilidade, e o gelo poderia não ser suficiente.
Notamos que, de tanto irmos ao box, acabamos chamando atenção dos dois policiais militares (um dele era cabo) que faziam a ronda na rodoviária que, como se sabe, é um local que atrai golpistas, ladrões e outros meliantes.
O meu carro, um Ford-Fiesta, tinha placa de Arapiraca, Alagoas, que juntamente com Garanhuns em Pernambuco, além de outras cidades do nordeste, goza da fama de ser uma cidade com um grande contingente de pistoleiros. Verdade ou mentira, a má fama existe.
O Paulo, depois que ouviu um dos meus Cds do Jackson do Pandeiro, não queria ouvir outra coisa, pois passou um longo tempo longe da terrinha, e lá pras bandas do norte o Jackson não era muito cultuado. Hoje a coisa é bem diferente...
Lá pela quarta ou quinta vez que paramos no estacionamento da rodoviária para sabermos do ônibus que nunca chegava, o toca fita do carro estava tocando  “Forró em Caruaru”, em um volume suficiente para ser ouvido lá da calçada da rodoviária, de onde os PMs já estavam de olho em nós...
E o Jackson, sem cerimônia, não tava nem aí:

 “No forró de Siá Joaninha em Caruaru,
  cumpade Mané Bento só faltava tu”...


  depois...


 “Nas alta madrugada
  Por causo de uma danada que vêi de Tacaratu...
  Matemo doi sordado, quato cabo e um sargento
  Cumpade Mané Bento só faltava tu”...

Aí os PMs, “apelaram”: aproximaram-se  com cara de quem não estava gostando, as mãos sobre as armas, e:
- documentos, por favor, e mantenha as mãos sobre o volante; e o senhor aí, referindo–se ao Paulo, sobre a cabeça...
- O que é isso, “seu” guarda? Somos de paz...
Mostrei-lhe logo minha carteira do CREA, com foto de 1976. Ele olhou detidamente. Devo admitir que o original atual, não fazia muita justiça à foto; os cabelos, parecendo com os de uma foto muito conhecida do Benito de Paula, há muito já tinham ido embora... mas o bigode, ah! esse era inconfundível e continuava preto como antes, e assim continuou até ser removido inapelavelmente em 2012.
- O que é que vocês tanto procuram aqui? Estão esperando alguém?
Expliquei detalhadamente que estávamos esperando um “carregamento” de camarão, etc e tal e que o ônibus estava atrasado e, portanto, estávamos preocupados.
- E o que quer dizer essa música aí?
Não aguentamos, eu e o Paulo, e caímos na gargalhada...
           
                                                  03 de janeiro de 2013

E para vocês conhecerem a íntegra da letra da música que ouvíamos, aí está:
Forró em Caruaru
Jackson do Pandeiro (Zé Dantas)
No forró de Sá Joaninha em Caruaru...
Cumpade Mané Bento só faltava tu (2x)
Eu nunca vi, meu cumpade
Forgansa tão boa
Tão cheia de brinquedo e de animação
Bebemo na função, dançamo sem parar
Num galope de matar


Nas alta madrugada
Por causo de uma danada que vêi de Tacaratu...
Matemo doi sordado, quato cabo e um sargento
Cumpade Mané Bento só faltava tu
No forró de Sá Joaninha em Caruaru
Cumpade Mané Bento só faltava tu (2x)
Meu irmão Gisuíno grudou numa nêga
Xamego de sujeito valente e brigão
Eu vi que a confusão não tardava a começá
Pois um cabra de punhá
Com cara de assassino
Partiu pra Gisuíno e tava feito o sururu
Matemo doi sordado, quato cabo e um sargento
Cumpade Mané Bento só faltava tu
No forró de Sá Joaninha em Caruaru
Cumpade Mané Bento só faltava tu (2x)
Ao doutor delegado que é veio, trombudo
Eu disse que naquela grande confusão
Houve apena uns arranhão
Mas os cabra morredô
Nesse tempo de calô tem a carne reimosa
O véio zombou da prosa eu fugi do Caruaru!
Matemo doi sordado, quato cabo e um sargento
Cumpade Mané Bento só faltava tu
No forró de Sá Joaninha em Caruaru
Cumpade Mané Bento só faltava tu (2x)