domingo, 31 de maio de 2015

Sampa - Joaquim Belo



No coração da avenida Paulista pulsa o PIB do país.
No ápice da pirâmide a elite branca está feliz,
A cotação do dólar subiu e o risco do país caiu.
As estatísticas indicam o que os gráficos confirmam
As aplicações financeiras cada vez valendo mais
Dorme nas redes bancárias dos paraísos fiscais.

Na outra ponta da cidade, por vias marginais,
Gente dormindo sentada, acordada ou de pé,
Espremidos nos vagões dos trilhos metroviários,
São despejados como gado na estação da central
É a grande força do trabalho, que faz o bolo crescer,
Amassa a massa, tempera e assa, mas sem direito a comer.

E nas cercanias dos proscritos ao lado da Júlio Prestes,
Entre muros invisíveis um novo inferno terrestre,
São as tribos dos miseráveis e excluídos da nação
Onde impera a lei e a ordem da desordem social.
E a rapinagem política disputa, numa luta fratricida,
Quem vai tocar a batuta na disputa eleitoral.

Indiferente aos conceitos e preceitos sociais
São os zumbis que viajam pelas vias ilusórias,
Veias de sangue entorpecidas pelas drogas ingeridas.
No olhar a mesma tristeza, no peito a mesma história
Nas frustrações da vivência e nas ilusões perdidas.
Uma borracha que borra, mas não apaga as feridas.

Enquanto a garoa filtra uma tênue e pálida luz,
Sobe em forma de espirais as fumaças expelidas
Projetando silhuetas de figuras estremecidas,
Como fantasmas que dançam e pela noite vagueiam
Mortos-vivos, que num lampejo o pensamento reluz,
Antigos, mortos e insepultos sentimentos.

25 de maio de 2015

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