domingo, 10 de maio de 2015

minha mãe- risomar fasanaro


Escrevi este poema nos anos 70. Que todas as mães se sintam homenageadas. Embora as tarefas se diferenciem, de região para região, as mães são muito parecidas. Como dizem: "só mudam de endereço".


minha mãe

eu te via batendo bolo
costurando noite e dia
vestidos lindos de rendas
roupas que nunca vestias
enquanto isso eu pescava
no rio jaboatão
subia nas pitombeiras
procurava os araçás
enquanto bordavas vidrilhos
nos vestidos das grã-finas
meus olhos teciam sombras
e se fizeram tão tristes
foi esse teu jeito, mãe
manso, doce, cordato
que me tornou tão rebelde
foi de te ver, mãe,
lavando, passando, varrendo
de um lado a outro correndo
que me tornou desse jeito
enquanto eras dona de casa
eu enfrentava a vida
em protestos, passeatas,
“pão que o diabo amassou”
os sonhos transpunham rios
que nunca alcançaram mares
e tu navegavas ali
-comandante-
de um barco sempre à deriva
o cheiro de manjericão
em ti era tão natural
como Chanel nas grã-finas
e foi “tua filosofia”
“ruim com ele, pior sem ele”
que me tornou desgarrada
a querer apagar-te mansa
em toda minha lembrança
mas disso tudo ficou
um fiapo de memória
faísca de fogueira
das festas de São João
da canjica, da pamonha
da fogueira e dos balões
pois é, mãe,
de tudo isso ficou
um fiapo de lembrança
com gosto de caju verde
e esse cheiro de cajá...
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