sábado, 15 de novembro de 2014

RECORDANDO Paulo Proscurshim, Olga Ribas de Andrade Gil e os queridos alunos-companheiros- João dos Reis


RECORDANDO Paulo Proscurshim, Olga Ribas de Andrade Gil e os queridos alunos-companheiros

PAULO PROSCURSHIM, meu dileto amigo: trabalhamos juntos na Biblioteca pública de Osasco nos final dos anos 60 e inicio dos 70. Ele foi presidente do Grêmio estudantil da Escola Estadual “Mal Bittencourt” em 1968, e irmão de Pedro, um dos vereadores presos, cassados, depois do golpe militar de 1964. Filho de imigrantes russos-ucranianos, foi o hermano solidário nos anos de resistência. Cursou Medicina na Faculdade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Há muitos anos foi para o Canadá e hoje vive nos EUA.

Camaradas presos, torturados, mortos e desaparecidos; a rede de espionagem nas fábricas, nas escolas. Éramos constantemente vigiados por um policial civil da Delegacia Seccional de Osasco: durante semanas o agente do Estado comparecia na biblioteca, pedia um livro e permanecia horas com o livro aberto na mesma página na sala de leitura. Sentiamos a cada dia nossa impotência diante da repressão política.

Eu e Paulo conversamos sobre as “suspeitas” dos órgãos da ditadura, mas nada podiamos fazer. Algumas vezes disse em voz alta: “como pode alguém ler a mesma página durante tanto tempo?” – mas o espião permanecia calado. Avisamos amigos para evitarem vir ao nosso trabalho. Dois dos meus contatos da VAR-Palmares compareciam eventualmente à biblioteca - mas estávamos condenados ao silêncio.

Em 1972 terminei a licenciatura em Filosofia na USP. Decidi no ano seguinte trabalhar em colégios das cidades do Litoral Norte paulista. Foram oito anos de isolamento, mas de convívio fraterno com meus jovens discipulos. Dizia a eles que era preciso resistir à censura e à vigilância policial.

Alguns deles em Caraguatatuba: Julio César Avelar, Ney Olivieri, Isabel Cristina de Oliveira; outros, a memória guardou apenas o nome: Pedro, Derci, Lenin, Walmir, Eduardo (Duda). Nunca esquecerei: no meu primeiro aniversário longe da família, a campainha tocou no apartamento onde morava: eram Ester e Rita com um bolo de presente. E o convite de Lucio Mascarenhas para um almoço em que sua mãe preparou o prato típico caiçara, o azul-marinho.

ESTEVÃO MIKLOS ARATO, filho de imigrantes iuguslavos, estudou Jornalismo, vive há anos nos EUA; GILMAR ROCHA é arquiteto; ANGELA e OLGA DE ANDRADE GIL cursaram Letras – foram os alunos que mais me apoiaram nesses anos de solidão.

A professora OLGA RIBAS DE ANDRADE GIL, mãe das gêmeas (Ângela e Olga) é uma das lembranças mais doloridas: a sua casa em Ubatuba foi o meu novo lar. Estava internada em fase terminal em um hospital em S.Paulo; passei um dia ao seu lado - despedi-me dela silenciosamente; faleceu em 1984, e está sepultada em Taubaté.

Depois de décadas, imagens e recordações estão presentes. Apesar do tempo e da distância, os estudantes-companheiros permanecem vivos no meu coração, como no passado. A eles sou muito grato pelo carinho e solidariedade – que somente os verdadeiros amigos são capazes de revelar.

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