sábado, 1 de agosto de 2015

2015: um encontro de amigos em Osasco - João dos Reis



Para Ewerton Antunes e Arthur Antunes, de Curitiba

“Estamos os meus amigos. (...)
Os gestos, a alegria
do encontro tornara-os ternos e desajeitados.
Mais do que dirigindo-nos a nós próprios,
fazíamo-lo para uma presença imaginária,
a secreta corrente que cada um unia, e,
mais secretamente ainda, dois e três escondia.(...)
Os meus amigos falam, falam todos ao mesmo
tempo e não se entendem.
E quanto mais querem dizer mais abraços dão”
João Miguel Fernandes Jorge, inicio do poema “Jantar em Alcabideche”.

No restaurante “La Manchega” em Osasco, Albertino revela as dificuldades da Comissão da Verdade de Osasco. José Geraldo nos conta do período e que ele e o filho estiveram com dengue; e da viagem ao campo de concentração Auschwitz na Polônia. Risomar descreve o personagem do livro que está terminando de escrever. Toninho nos fala da cela no DOPS do Largo General Osório onde esteve preso nos anos 70. Espinosa anuncia a série de artigos que está escrevendo sobre a universidade pública. Airton mostra o entusiasmo com o curso de Fenomenologia que está frequentando na USP.

O grupo se reúne mensalmente para um almoço de confraternização há quatro anos. Albertino Souza Oliva, advogado, participou do movimento emancipacionista de Osasco. José Geraldo Vieira, advogado, esteve ligado ao movimento dos padres operários – e é o principal idealizador desses encontros. Risomar Fasanaro, professora de Literatura e Lingua Portuguesa, ativista cultural que esteve ligada aos artistas que agitaram a cidade desde os anos 60. Antonio Vieira de Barros, operário, participou da JOC, da Frente Nacional do Trabalho e da Oposição Metalúrgica. Antonio Roberto Espinosa foi do comando da organização guerrilheira VAR-Palmares e proprietário do Jornal “Primeira Hora”. Airton Cerqueira Leite, professor de Geografia, militou na Apeoesp, sindicato dos trabalhadores da educação pública.

Sobre o que conversamos? Nossos diálogos não têm roteiro; nossos almoços não têm data nem dia definidos: é um encontro de amigos para trocar idéias, revelar as agruras do cotidiano, expor as dificuldades e os novos projetos – uma celebração à vida e ao futuro.

Estivemos sempre ligados por laços de amizade e de ideais políticos. A passagem do tempo não nos afastou, apesar dos caminhos que cada um de nós percorreu. O que nos aproxima ainda hoje? Penso que é o compromisso com a luta da classe trabalhadora, a defesa de um humanismo radical, de uma sociedade com justiça e igualdade.

Todos participaram da vida sindical e política na cidade. Albertino e José Geraldo como militantes e da assessoria jurídica da Frente Nacional do Trabalho; Toninho e Airton como sindicalistas; Risomar como militante sindical e da cultura; Espinosa como jornalista e professor universitário.

Em muitas outras reuniões os amigos estiveram presentes: no Partido dos Trabalhadores, na Frente Nacional do Trabalho, no sindicato, na vida cultural da cidade. Acredito que em nenhuma dessas ocasiões ficou evidente como nos nossos almoços-encontro: a amizade fraterna e solidária – que sobreviveu aos anos do terror policial, aos dilemas da redemocratização, à partida definitiva de companheiros, aos embates da vida presente.

E vocês me perguntam: quem sou eu no grupo de amigos do passado? Sou o “secretário” indicado por eles para articular o encontro, marcar o dia, escolher o restaurante, enviar e-mails para os convidados. Como no verso final de João Miguel Fernandes Jorge, estou presente entre meus amigos e, em silêncio, “olhava-os como vocês, leitores, nos estão a olhar agora”.

Um comentário:

  1. Olá professora cheguei até seu blog, quando procurava por uma pessoa muito queria, prof. Airton Cerqueira Leite, este cara, com todo o respeito me influenciou pra vida toda! Eu o conheci sendo aluna no Vicente Peixoto há mais de 25 anos, mas guardo com carinho o diploma de honra ao mérito que ele me deu , enfim se puder me passar o e-mail dele ficarei muito feliz. Um forte abraço professora.

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