domingo, 21 de dezembro de 2014

RECORDANDO os anos jovens e os queridos alunos-companheiros - João dos Reis


RECORDANDO os anos jovens e os queridos alunos-companheiros

“Comunicar aos jovens desconhecidos nossa sabedoria e os belos frutos de nossa experiência? De renúncia em renúncia aprendemos uma coisa: nossa radical impotência. (...) Mas temos ossos velhos e, na idade em que as pessoas cogitam escrever o testamento, descobrimos que nada fizemos (...) Nizan pode lhes dizer tudo porque é um jovem belo monstro como eles, partilha com eles o terror de morrer e o ódio de viver no mundo que lhes preparamos.(...) ... tornou-se revolucionário por revolta e quando a revolução teve de ceder à guerra, reencontrou sua violenta juventude e acabou como revoltado”. (Jean-Paul Sartre, prefácio a “Aden, Arábia”, Paul Nizan, Edit.Marco Zero, S.Paulo, 1987,pág 14 e 16).

Fui professor de Filosofia por mais de duas décadas.. Vários dos meus discípulos das cidades do Litoral Norte paulista foram minhas companhias. Depois de 3 anos, a Filosofia foi proibida no currículo escolar – ainda permaneci mais cinco anos lecionando outras disciplinas - até 1980. A casa em Ubatuba de Olga Ribas de Andrade Gil, mãe das gêmeas Olga e Angela, foi meu porto seguro nessa jornada no litoral caiçara.

Lembro de um acampamento na Praia Dura com o grupo do terceiro ano do Colégio "Cap. Deolindo de Oliveira Santos". Recordo também que, depois de um acidente de carro, acordei no hospital – ao meu lado estava Dona Olga, que substituiu minha família ausente. Em muitas noites de sábado, com Angela de Andrade Gil e amigos, conversamos sobre a esperança da volta à democracia.

Quando houve a primeira greve dos professores em 1978, foi com orgulho que tive o apoio e liderança da ex-aluna Angela, recém-formada em Letras. Depois da minha volta a São Paulo, reencontrei-as em 1984 no hospital. D. Olga estava em fase terminal - e foi minha vez de velar o seu sono. Foi a última vez que as encontrei.

Julio Cesar Avelar, do grêmio estudantil da Colégio “Thomaz Ribeiro de Lima", cursou Oceanografia. Revi-o em 1986 – me convidou para passar as férias em sua casa em Olivença, BA, onde trabalhava.

Italia Benetazzo, do Cene de São Sebastião, aguardava o final das aulas para conversar. Reencontrei-a em outubro de 2012 em uma homenagem ao irmão, Antonio Benetazzo, no Memorial da Resistência.

De volta à capital proletária, tive a camaradagem dos professores Airton Cerqueira Leite, Jaime Pontin, Sandra Ceschini Sussmann – trabalhei 14 anos no Colégio “Vicente Peixoto”. E dos jovens do grêmio estudantil – Sidney e Silda, Celso Soares Moitinho, Luiz Fernando Pastorelli. João Antonio nunca se esqueceu dos seus mestres – sempre vinha nos visitar na escola, anos depois de terminar o colegial. No final das aulas do noturno, eles aguardavam a minha carona – e prolongávamos o diálogo da sala de aula.

Eder tinha 16 anos, estava no 1º ano - e me confessou que vivia angustiado. Eu disse que a angústia nos acompanha durante toda a vida. Reencontrei-o em 1991 em Campos do Jordão: ele me viu no ônibus, acenou para que o veiculo parasse, me convidou para me hospedar em sua casa. Na última vez em que estive na cidade da Serra da Mantiqueira, procurei saber noticias dele, em vão.

Silda foi para São José dos Campos – cursou Psicologia; veio me ver algumas vezes na escola. Quando Celso vem da Bahia, almoçamos juntos e conversamos sobre o pequeno Juan, seu filho.

Recordo sempre do convivio com meus companheiros queridos – eles estão na minha memória para sempre.

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