“Condena o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha Tiradentes, alferes (...) a que, com balaço e pregão, seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre. Que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada para Vila Rica, onde no lugar mais público seja pregada e num poste alto, até que o tempo o consuma, e o seu corpo dividido em quatro partes e pregado em postes, pelo caminho de Minas...”
A sentença que condenou o inconfidente mineiro, que sonhou com a independência de Portugal, ficou desconhecida . Somente em 1860, o historiador Alexandre J.Melo Morais Filho descobriu um saco verde esquecido no Arquivo Nacional no Rio. Nele estavam as três mil páginas dos “Autos da Devassa”, com depoimentos realizados em juízo durante 3 anos de prisão e as sentenças dos protagonistas da maior rebelião do período colonial.
O jornalista Pedro Doria reconstitui a História a partir desse documento e e retoma as análises de alguns historiadores. É um livro fascinante porque ouvimos a voz dos inconfidentes. Para mim não foi uma surpresa que alguns deles eram cultos, que leram os livros que incendiaram a imaginação dos libertários. Mas o autor informa até a quantidade e os títulos que alguns deles tinham em suas bibliotecas. A revolta surgiu da possibilidade da Derrama (cobrança de impostos atrasados), mas também das idéias que agitaram a Europa e América revolucionárias.
Pedro Doria confirma que Tiradentes era um dos lideres do movimento. Mas também Tomás Antonio Gonzaga Cláudio Manuel da Costa, o padre Toledo e o comandante dos Dragões, Francisco de Paula Freire de Andrade. O fato de que alguns deles tenham estudado na Universidade de Coimbra, em Portugal, não foi novidade para mim. Mas sim, que alguns, como o engenheiro químico José Álvares Maciel, era um pesquisador dedicado. E que o número de conspiradores era mais de duas dezenas.
Os estudantes das escolas talvez desconheçam que a mudança da sentenças de morte à forca de 12 deles foi comunicada no último instante. As penas de morte foram perdoadas e comutadas para degredo eterno ou prisão perpétua. Do total de 34 presos, 3 morreram na prisão Os bens de todos foram confiscados. E o que os livros não contavam – e que sempre tive curiosidade em saber – é como foi o exilio dos degredados na colônias africanas (Angola , Moçambique, entre outras).
"Seja breve, pediu 3 vezes o alferes Joaquim José, o Tiradentes, á espera da morte no cadafalso. O padre franciscano que subiu ao local da forca, gritou para a multidão: "Não se deixem possuir só da curiosidade e do assombro".
*“1789” , de Pedro Doria, Edit. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2014, 270 pp
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