sexta-feira, 14 de novembro de 2014

RECORDANDO Prof. JOSUÉ AUGUSTO DA SILVA LEITE (Para Gabriel Roberto Figueiredo)- João dos Reis



“Toda consciência é, pois, memória _ a conservação e acumulação do passado no presente” (Bergson, “A energia espiritual”, cit. por André Lalande, p. 662 do Dic.Téc.Crit.de Filosofia”, Martins Fontes, S.Paulo, 1996)

Por que escrevo? Para quem escrevo? Devo o incentivo (de escrever) à amiga Risomar Fasanaro e à Comissão da Verdade de Osasco. Pensei na militância de Raul Ellwanger (RS) e de Francisco Calmon (ES); no relato autobiográfico de Carlos H. Vianna (Portugal), e de Pérsio Arida na Revista Piauí (nº 55).
No Encontro da VAR-Palmares em 2013 em Osasco não conhecíamos as histórias dos companheiros. Pensei também em Arthur, que conheci ainda piá em Curitiba – ele tem 16 anos, é um grande leitor e um filósofo-aprendiz . E em Bruno, de 10 anos, que conheci ainda bebê, e que foi meu vizinho em Cotia: ele é um colecionador de livros e é uma criança adorável. E nos filhos dos meus amigos Moacir (Santa Catarina), Felis (Paraná) e Celso (Bahia): João Victor, Juan Guilherme e Juan .Talvez um dia, quando os três joãozinhos chegarem à adolescência ou à maturidade, eles leiam esses meus textos.

Recordei a minha descoberta do universo dos livros. JOÃO FERREIRA, um fazendeiro em Gália, prefeito em 1960/1963, criou uma biblioteca no município. A paixão pela literatura – que começou na infância – me levou a um mundo mágico.

Livros e ideias incendiaram minha imaginação - três deles li quando tinha 16 anos: “Sobre os sindicatos” (Lênin), “Trabalho assalariado e capital” (Marx), “Manifesto comunista” (Marx e Engels). Jean Paul Sartre despertou a reflexão sobre os problemas contemporâneos. Tenho uma grande dívida com a Revista Civilização Brasileira – os seus artigos iluminaram a minha juventude com uma visão critica do Brasil.

Alguns personagens voltaram do passado. JOSUÉ AUGUSTO DA SILVA LEITE, professor de História do GEPA (Ginásio Estadual de Presidente Altino) em 1961/62: ele me incentivou - escreveu nas minhas provas elogios que jamais esqueci. E a ele meu agradecimento eterno: nos intervalos das aulas, atendia os alunos em uma minibiblioteca da escola. Foi ele que me apresentou Machado de Assis, Monteiro Lobato, José de Alencar, entre outros escritores. No final do ano, me deu de presente um dicionário de francês com uma dedicatória: “Ao Sr João dos Reis, pelas suas qualidades. Põe o teu ideal nas estrelas e luta! Josué, 15-novembro-1962”.

Vindo em 1961 de Gália e Duartina (SP), lembrei os primeiros anos no bairro (que ganhou autonomia em 1962) abandonado pelo poder público: água de poço, ruas de terra e sem iluminação, esgoto a céu aberto. Tinha 12 anos quando conheci GABRIEL , 17 anos, um dos lideres do movimento autonomista em Osasco. A polis, a política, nunca mais foi, para mim, um espaço, uma prática para privilegiados.

Um prefeito-fazendeiro, um professor, um jovem trabalhador-estudante me tornaram mais humano, mais sensível à humanidade. Há livros e personagens que sempre estarão presentes, apenas aparentemente abandonados no baú do esquecimento.

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