sábado, 20 de agosto de 2011
Ah! Gilberto Gil perdoe-me! - Wilma Leal de Lyra
Quando Gilberto Gil aceitou o convite para ser Ministro da Cultura juntei-me ao coro dos descontentes sem procurar saber dos seus planos nem dos motivos para o sim, apenas rejeitei o fato.
Durante os anos em que ficou como titular do ministério os ataques vieram de todo lado e o mais emblemático foi o silêncio dos amigos: poucos lhe deram o abraço de que se precisa nas horas de dificuldade e de solidão.
Então, comecei a entender o nó da jogada: o ministério da Cultura é mero apêndice num corpo que não lhe pertence e tanto faz que exista ou não, portanto Gilberto Gil, essa fruta rara, não passou de laranjada em mesa de Whiskie e champanhe, sorvidos entre sorrisos, cochichos ao pé do ouvido e tapinhas nas costas.
Quando pediu pela primeira vez para sair do cargo recebeu a solidariedade política do Presidente, quem sabe tenha entendido como apoio e ficou. Mas a gritaria dos afoitos pelo cargo aumentou o que talvez o tenha feito sentir que estava na hora de limpar as gavetas, levando-o a fazer o segundo pedido para sair que foi ladinamente aceito...
Gil saiu do ministério da forma elegante como entrou, não disse nada e foi para junto da sua Flora buscar um lugar tranqüilo aonde pudesse cuidar da sua paz. Ficou como os pássaros na muda: não piou.
O documentário a que assisti meio por acaso, mesmo sabendo que não existem acasos, me fez parar em frente à TV bem no momento em que o via chegando em Ituaçu- BA , onde passou boa parte da sua infância e um pedaço da juventude. Era um cenário parecido ao do distante Guaporé onde nasci que ficaria conhecido nos versos do belo reagge Vamos Fugir, que compôs.
Meu coração chorou de saudade e de vergonha.
De saudade porque só num papo entre negros é possível entender certos sinais de uma linguagem cifrada, repleta de mungangos, pantins e patifumês
Possivelmente essa afirmação seja entendida pelos eternos contestadores do nada para coisa nenhuma, como um pensamento racista ao inverso: a de que seja preciso ter uma porcentagem de negritude, para entrar em roda de samba.
Não me importa, no momento o que conta é que Gilberto Gil com toda a sua majestade aceite o meu pedido de perdão e me ofereça um lugarzinho na roda de samba onde eu possa dançar toda a negritude escondida durante tantos anos dentro de mim acompanhada pelos irmãos planetários de todas as cores, sempre chamados por ele em suas músicas.
Quem sabe as lágrimas de vergonha por ter deixado tão longe o dendê, o samborocô, o batuque, o mingau de banana e tantas delícias afro-brasileiras se transformem em chuva que regará a sementeira do CONHECIMENTO tão necessário a um povo que só precisa de uma coisa: saber da sua história e do orgulho de ter orgulho dela.
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