Parti de Osasco e fui viver em Curitiba no final dos anos 90. Tive a companhia fraterna dos companheiros que eram, como eu, “estrangeiros” na capital das araucárias.
Márcio, de Santa Maria, RS, estava a trabalho na cidade. - instalou o sistema de ar condicionado no Museu Oscar Niemayer. Era bastante calado – em um dia em que nós dois sentíamos a solidão da cidade, me falou “se eu era assim sempre bom para os amigos". Não soube como responder a ele.
Moacir Moreira Carvalho pretendia seguir a carreira militar. O plano de engajamento no Exército não foi possível. Voltou para Santo Antonio de Caiuá. Conversamos por telefone às vezes. Quando nasceu o seu primeiro filho, batizou-o como João Victor. Hoje vive em Luis Alves (SC).
Patricia Xavier, de Campo Mourão; Cesar Augusto Carraro, de Cascavel; Maricélia - estagíários na Clinica de Fisioterapia da PUC. Eles, e outras estudantes, cuidaram não apenas do corpo, mas também da alma - minha gratidão eterna! Presenteei César com um vinho - ele me contou que abriu a garrafa no jantar das bodas de prata de seus pais.
Edgar é professor de dança gauchesca no Clube Albatroz. Com ele aprendi os segredos do vanerão, bugio, chamamé, rancheira .Foi o parceiro amigo, um perfeito cavalheiro, nas noites de baile e música.
Alessandro também pensou em seguir a carreira no Exército. Houve uma dispensa coletiva por corte de verbas – e me confessou que chorou na solenidade de despedida. Voltou para a sua cidade, Telêmaco Borba, sem ter o sonho realizado.
Mazé Mendes, de Laranjeiras do Sul, é minha amiga fraterna e solidária. Fui às exposições das suas belas pinturas - e estamos sempre em contato. Em um fim de tarde gelada, encontrei-a no Parque Barigui, abracei-a – e disse como me sentia honrado com a amizade dela.
Fiz o curso de contação de histórias com Martha Teixeira da Cunha e José Mauro dos Santos. Fomos voluntários - a querida Celina foi para o Instituto Paranaense de Cegos, eu para o Hospital do Trabalhador. Para as crianças, contava histórias infantis; para os adultos, lia noticias do jornal ou declamava poemas.
Ewerton Antunes, de Cascavel, e o pequeno Arthur foram meus companheiros queridos – hoje, é um adolescente-aprendiz de filósofo. Tive um acidente, fraturei o ombro. Fui visitá-lo na escolinha, ele me perguntou “se eu já estava bem”. Nunca me esqueci do carinho de um piá curititbano de 4 anos com o desamparo de um adulto.
O catarinense Luiz Fernando Niedzievski, do Mosteiro Monte Carmelo, adotou minha mãe - e nós o aceitamos como um filho e irmão querido. Somos gratos pelo convite para frequentar a sua mesa, dividir com ele o pão e o vinho. Foi uma viagem para fora do meu Estado, mas também para o interior de mim mesmo. Egnaldo, de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana, foi também meu irmão-camarada nessa jornada.
Sandra Tortato: curitibana gentil, atenciosa - as centenas de quilômetros que nos separam não diminuiram o afeto e a amizade.
Felis Penkal, pequeno agricultor em Araucácia, cidade vizinha de Curitiba: é também muito calado. Quando ele vinha para a cidade, me telefonava – e nos encontrávamos na Lanchonete Badech. Veio ao meu encontro uma vez com um presente: feijão, que ele plantou e colheu. Na tarde de minha partida, trouxe um pacote de pinhão. Conversamos às vezes por telefone. Descobri que, entre amigos, nem sempre é preciso o uso das palavras. Já tinha voltado para S.Paulo, e ele me comunicou o nascimento do seu primeiro filho: Juan Guilherme.
Tenho na memória e no coração meus irmãos-companheiros de viagem – que, um dia, desejei sem volta.
"Curitiba sem pinheiro ou céu azul pelo que vosmecê é - provincia, cárcere, lar - esta Curitiba, e não a outra para inglês ver, com amor eu viajo..." - Dalton Trevisan, "Em busca de Curitiba perdida".
Nenhum comentário:
Postar um comentário