PADRE AGOSTINHO (Marcelo Duarte de Oliveira), monge beneditino
e a pátria latino-americana
No final dos anos 70, surgiu o movimento pela anistia e a provável volta dos exilados. Padre Domingos Barbé, Padre Agostinho, Albertino Souza Oliva, José Groff, participantes da Frente Nacional do Trabalho, da JOC (Juventude Operária Católica),das Pastorais (Operária, Carcerária, de Direitos Humanos, da Juventude), da ACO (Ação Católica Operária) , das comunidades eclesiais de base, discutiram e fundaram em Osasco o Centro de Direitos Humanos. Foi um baluarte durante aqueles anos frente à rede de espionagem e prisões que ainda aconteciam em S.Paulo. Cida Lopes, João Joaquim da Silva, Marinete foram militantes nesse trabalho corajoso.
PADRE AGOSTINHO é o nome que Marcelo Duarte de Oliveira escolheu como monge beneditino. Cursou Direito na USP e fez a opção religiosa já adulto, sendo ordenado em 1967. No trabalho da Pastoral Carcerária no Presidio Tiradentes descobriu em 1969 as torturas e desaparecimentos de presos. Denunciou, junto com Hélio Bicudo, a ação do Esquadrão da Morte do delegado Sérgio Fleury. Em 1980 foi ele que me apresentou ao grupo do psicólogo Jorge Broide da PUC-SP, que discutia as ideias do psicanalista Wilhelm Reich e que trabalhava com crianças de rua em Osasco. Com Cibele Giaconni, durante 5 anos, fiz uma "análise terapêutica”: ela foi a minha amiga querida – tive o privilégio da sua presença na minha vida no inicio dos anos 80.
Viajei em julho de 1978 para a Argentina. Encontrei com Adolfo Perez Esquivel, que ganharia o Prêmio Nobel da Paz em 1980; ele havia sido preso por um decreto do ditador de plantão e solto dias antes da minha chegada. Esquivel me contou que estava muito grato a Dom Paulo Evaristo Arns e à CNBB pela campanha por sua liberdade. Trouxe uma carta pessoal de agradecimento dele ao cardeal brasileiro e à CNBB. Eduardo, que trabalhava no Serpaj-Servicio Paz y Justicia, me recebeu em sua casa, e foi um amigo presente e solicito na minha estadia em Buenos Aires. Visitei junto com ele a associação das mães e parentes de presos políticos, e me mostraram o fichário com as informações dos presos e desaparecidos – foi o momento mais comovente dessa viagem.
Fui para o Chile no final de julho desse ano, 1978; pelos militantes do Serpaj fui informado das prisões, das torturas e desaparecimentos de militantes de esquerda. Na casa onde fiquei alojado, me contaram da morte do músico Vitor Jara -“le cortaran las manos” – depois do golpe militar de 1973: uma imagem que me acompanha até hoje. Estive com meu acompanhante chileno, José Maurício, em um ato pela liberdade dos presos políticos no auditório da PUC de Santiago – um momento histórico nessa viagem. No ano seguinte, Viviane e Sérgio (filho de militante do PC chileno) estiveram refugiados em Osasco. Cida Lopes, Fred e o grupo de jovens da pastoral de direitos humanos da Igreja Imaculada Conceição/km 18 em Osasco, de que eu também participava, lhes deram casa, trabalho, apoio, antes deles partirem para o exílio na Suécia.
Em janeiro de 1979, estive em Assunção no Paraguai. Antes da minha chegada, muitos presos políticos tinham sido soltos e expulsos do país e vindo para o Brasil. Na sede do Comitê de Igrejas, recebi um documento com denúncias de prisões arbitrárias (Eulogio C.C.Zorrila), de atentados (Doroteo Grandel) de prisões por mais de 20 anos (Virgilio Barcero Riveros e Elvero Acostra Aranda). Recebi cartas dos familiares, que não tinham noticias dos que foram banidos, e um dossiê para Dom Paulo Evaristo Arns e para a CNBB. De volta ao Brasil, numa coletiva de imprensa convocada pela Cúria metropolitana, em que estive presente, tornei público o documento e entreguei as cartas - os expatriados viviam em S.Paulo, e lendo o jornal “Folha de S.Paulo” (01/02/1979) procuraram a arquidiocese. Vieram depois para Osasco - Albertino S.Oliva e Marcos L.Martins foram solidários, oferecendo casa, trabalho, apoio.
Padre Agostinho, companheiro e hermano, será sempre lembrado - vive há muitos anos no Mosteiro beneditino de Ribeirão Preto, no interior de S.Paulo.
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