domingo, 5 de fevereiro de 2012
Retorno a Belém do Pará - Risomar Fasanaro -Fotos: Renato Otílio e Risomar
Estou de volta a Belém. Cidade que elegi como a número um do país. E antes que me censurem, quero dizer que sei que ela tem problemas. Mas as cidades são como as pessoas. Algumas nos provocam amor à primeira vista, outras só percebemos que amamos com o passar do tempo, há ainda aquelas que serão amadas por toda a vida. Pessoas e cidades existem que mesmo tendo defeitos, são amadas por nós. Não fosse assim, e o que seria de nossa vida? Só conviveríamos com seres perfeitos? Seria uma chatice viver no céu em vida.
Ainda que digam que o amor é cego, eu acho que mesmo vendo os defeitos do objeto amado não deixamos de amá-lo. O resto é fingimento, é falsidade, é falta de firmeza de sentimentos.
E aqui estou eu a filosofar, em vez de falar daquela cidade linda que é Belém. Dessa vez tive a felicidade de contar com a presença de dois grandes cicerones: meus primos Renato Otílio e Claudia Fonseca.
Já na primeira noite eles nos levam para tomar um tacacá delicioso e que se revela pra mim como algo conhecido, embora seja a primeira vez que tenha oportunidade de experimentar. A primeira vez que ali estive, fui através de agência e nada pude usufruir do que faz parte da vida do povo paraense.
Minha alma sentia necessidade disso: emendar os laços familiares. Sempre convivi mais com os parentes de meu pai, do Rio Grande do Norte, faltava o que é meu e que vem dessa região do norte do país. Faltava desencavar as origens desse lado indígena que sempre mexeu tanto comigo.
Andar pela cidade das mangueiras, das docas do cais, com seus sorvetes de inúmeros sabores: castanha do Pará, açaí, cupuaçu, e tantos e tantos outros. Faltava ver de perto essa Belém, debruçar-me na amurada para ver as águas da baía do Guajará , ir ao Mercado de Ver-o-Peso, ver suas inúmeras vendedoras cantando os poderes miraculosos de suas ervas para atrair sorte, dinheiro, saúde e um amor verdadeiro.
São óleos, elixir, pós e pomadas que, segundo elas curam de frieira a câncer...que promovem desde a vinda de um namorado, à cura da dor pela perda do grande amor de nossa vida. Algo que só em “Cem Anos de Solidão” de Gabriel G. Marques é possível encontrar.
Percorremos, minha irmã e eu, aquele mercado onde a vida palpita em cada palmo de chão, e fotografo tudo: mulheres descascando castanhas do Pará, de caju, homens produzindo tucupi, extraindo o suco do cupuaçu.
Meu peito só falta explodir de tanta felicidade por estar ali em Belém do açaí, da maniçoba, do bolo de macaxeira, da dourada com açaí saboreada ali no balcão do Ver-o-Peso, junto com aquele povo lindo, com traços indígenas. Conviver com os que têm por tarefa descascar castanhas do Pará, extrair o suco do açaí, preparar o molho de tucupi.
Na saída, encontramos alguns neo-hippies vendendo artesanato. Enfim algo novo em suas bijuterias, trabalhos que não encontrei em nenhuma outra cidade em que já estive. Minha alma cigana sente vontade de comprar tudo, e tento conter esse nosso lado consumista.
Renato nos levou a Icoaraci, bairro de Belém que antes foi balneário, e junto com sua mulher, Zezé, e sua mãe, Ivone , temos a oportunidade de ver um índio de perto , tocando flauta .
No outro final de semana tomamos banho na praia de Mosqueiro, emoção que só havia sentido antes na ilha do Marajó havia oito anos. Para minha irmã era a primeira vez que entrava em águas doces.
Acredito que conhecer um pouco de uma cidade é participar do dia a dia, e que aqueles que viajam com empresas de turismo, saem sem conhecer quase nada da vida das pessoas dos lugares que visitam. Só conseguimos isso graças aos nossos familiares.
No último sábado em que lá ficamos, minha prima Cláudia nos levou ao bosque Rodrigues Alves, e novas emoções ali vivemos. Antes de entrar, peço licença aos deuses da floresta para penetrar em seu reino, para tocar de leve os troncos nodosos daquelas árvores centenárias, algumas espécies que jamais havíamos visto, imaginar que por entre as folhagens há de haver o Saci Pererê, a Curupira, quem sabe a Matinta perê, que um pouco de fantasia não faz mal a ninguém.
Alguns quiosques oferecem comidas típicas, e Cláudia nos sugere experimentar maniçoba. E aquela como todas as outras que comi me pareceu tão familiar, como se tivesse feito parte de minha vida inteira. Mistério que não se explica, pertence ao imponderável.
Belém aonde fui juntar os fios de minha história, conhecer as raízes do meu povo do lado materno. Esse chamado que há anos me acompanha, que vem da Amazônia, e que sinto dentro de mim como uma teia rompida. Algo que me falta, e que, quem sabe, um dia venha a reconstituir.
Belém onde na primeira noite em que chegamos Renato Otílio nos levou para tomar tacacá. E cada prato que eu saboreava, era como se já conhecesse, houvesse apenas uma retomada. E foi maravilhoso conviver com minha família do lado materno, foi maravilhoso conhecer o dia a dia do povo paraense. Adorei meus primos e o que mais trouxe de lá foi a saudade daquela terra e daquela família maravilhosa.
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