O TREM E O TEMPO - Risomar Fasanaro
(aniversário de 50 anos de Osasco)
o trem parou na estação
era maio
o frio gelava meus passos
e a garoa desenhava
uma paisagem sem contornos
Recife se perdera pra sempre
xerém, cajá, araçá
eram apenas lembranças
cristalizada saudade
do que não voltará jamais
Osasco
pelas ruas caminhei
buscando tua alma
procurei-a na poeira
nos rastros dos romeiros
da velha estrada de Itu
busquei
no Glamour da João Batista
o sarong de Doroty Lamour
os passos de Gene Kelly
o sorriso de Ava Gardner
mas eles ficaram em Recife
só encontro aqui
jacó do amendoim
À porta do cinema...
Quem sabe venha da Itália
Quem sabe lá do Japão
Por que não lá da armênia
Ou dos cravos quem sabe venha
Esse amor à revolução?
na Antonio Agu vou em busca
do voo da Asa Branca
na voz de Gonzaga, o Luís
mas apenas o silêncio
acompanha essa saudade
paramos nas Lojas Sis
onde minha mãe comprou
o 1° fogão a gás
continuo caminhando
e na igreja matriz
reencontro santo Antônio
que é de minha devoção
missa, comício, quermesse
domingos no Estoril
reuniões secretas
tecem a emancipação
que burburinho é esse?
São cédulas que me entregam
me falam do SIM e do Não
agora somos cidade
agora temos prefeito
depois...
tempo de intempérie
explode dentro do peito
paixão pela liberdade
paixão que não tem mais jeito
fábricas param
baixa a repressão
tanques de guerra invadem
o centro da cidade
tempo de armadilha
tempo de barreto, lamarca, espinosa
tempo de marília
tempo de miranda, albertino, roque
tempo de dilema e de iracema
tempo de aninha,miranda, ibrahim
tempo ruim
tempo de tortura
de mortes, exílio
e o silêncio pairou sobre a cidade
de repente
novamente ela se agita
as canções invadem as ruas
é tempo de festival
afrânio, celsinho, dudu
rubens , ricardo, chu
homero, césar, varinha,
Paula, pálida pequena
No asteroide X
Embaladeira
Fim de Reza
Nas ruas o cristo negro
É o teatro expressão
reuniões, comícios, passeatas
anistia, diretas...
caminho por essas ruas
cadê o glamour?
a igreja
o Estoril?
dinamitaram as paineiras
que um dia vestiram de rosa
o tietê que morreu
o tempo devorou tudo
o glamour , o estoril, a farmácia do seu Vasco
papelaria do galepe
o tempo também levou
a febre das greves
as quermesses, os festivais
a euforia das diretas
o tempo também levouo trem da vida passou
carregando
meus amores
meu soluço
minha dor
e esta saudade infinda
desse tempo que passou.
Achei lindo Risomar,li mergulhando a fundo em tudo que ficou para tras, realmente na vida de todos os que sentem e observem o passado como era, sabe que tudo se transforma criando uma nova historia um novo passado uma nova saudade.bjos!Carlos/ Sorocaba
ResponderExcluirNossa que texto bonito a nostalgia me contagiou e fiquei comovido com suas saudades. Parabéns.
ResponderExcluirObrigada,Carlos, é sempre um incentivo os comentários dos leitores.
ResponderExcluirHoje trouxe novos poemas do poeta pernambucano Antonio Belo.
Forte abraço
Fantástico, sou historiador dedicado a cidade de Osasco, achei isso pelo google e fiquei imensamente feliz. Reproduz de uma forma imensamente poética a relação do imigrante com a agitação paulista, que na cidade de Osasco se inflamava devido as greves e aos movimentos separatistas. PARABÉNS!!!
ResponderExcluirLindo e emocionante texto, Risomar. Essa vida é mesmo engraçada, cheia de curvas, labirintos, manobras, caminhos que se cruzam, gente que se encontra atraída pelos mesmos gostos, preferências, afinidades, paradigmas... Bendito seja Deus que permitiu que o homem ignorasse as distâncias geográficas entre eles. Se para falar com Ele o canal sempre foi disponível através da oração,conosco foi diferente. Paulatinamente conquistamos novas formas de comunicação, hoje, através da tecnologia, estamos nos comunicando em tempo real, e isso é divino! Por causa dessa "engenhoca" maravilhosa eu conheci o Antônio Belo, cuja amizade nascida no facebook me fez conhecer você, que já me falou do Joaquim, da Inez Oludé, deixando-me informada sobre toda família tão cheia de talentos. Uma família que nasceu no Moxotó, uma região limítrofe com o meu Velho Sertão do Pajeú, enfim, que possui as mesmas raízes, os mesmos costumes, a mesma cultura, que fala a mesma linguagem. Somos de uma geração que experimentou um sentimento chamado "Saudade", porque, no nosso tempo, dada a ineficiente estrutura organizacional de nossa terra, especialmente no que tange a área da educação, fomos espalhados por todo país em busca de aprimoramento e melhores condições de vida. Hoje tenho um filho que mora em São Paulo, e me dei conta que, nem ele, nem eu experimentamos o que meus pais sentiram quando sai de casa para estudar. Só tínhamos direito a um telefonema de poucos minutos, uma vez a cada fim de semana - mesmo assim, éramos privilegiados, porque muitos só tinham contato por carta - e meu filho, diferentemente, entra na tela do meu computador a qualquer hora, sem se contar com a facilidade de voar nos tempos de hoje.Eu às vezes fico sem saber se isso é bom, ou se isso nos priva de sentir saudade, daquela vontade de ver de novo, que nos dá a medida exata do quanto o amamos. Uma coisa é certa, o reencontro é menos romântico, na medida em que ir e vir, ficar ou voltar é bem mais diferente do que no nosso tempo, incluía grandes despedidas, lágrimas e incertezas relativas ao tempo da ausência. Um abraço, mais uma vez parabéns pelo seu belíssimo texto e pelas escolhas das suas postagens.
ResponderExcluirBom dia Risomar
ResponderExcluirVocê continua linda, como nos meus tempos de Osasco e Carapicuiba.
Que bom saber que você está bem e com saude.
Escreva:
aparecidoraimundodesouza@gmail.com
ou ligue (27) 9716-0084 e (27) 9245-9406
Tambem pode me ver no "Google" ou no "You Tube"
Beijos e abraços de seu eterno fã
Aparecido
Escreva.
ResponderExcluirSaudades
Aparecido
Raimundo,
ExcluirObrigada por suas palavras. Que bom que os amigos nos vêem com o coração. Você está onde? Faz o que atualmente? Mande notícias...
Abraços
Bonito mesmo. Profundo.Comovente>
ResponderExcluirAcordei cedo com saudade do meu irmão que partiu para sempre. Parece que a saudade gosta das primeiras horas da manhã, pois tem me tirado da cama todos os dias antes das cinco. Eu que gosto e costumo acordar tarde...
ResponderExcluirMas lendo esses comentários senti um pouco de felicidade.
Obrigada aos leitores que aqui deixaram seus comentários.
Se algum (a) quiser me escrever diretamente meu e-mail é: risofasanaro@gmail.com
Abraços