segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Aniversário do Poeta - Risomar Fasanaro
Os anos escorreram pela ampulheta da memória. Por ela passaram meus sonhos, meus temores, meus anseios. Só não passou essa saudade, essa lembrança, essa falta que você faz.
Hoje especialmente, ao receber o e-mail de meu amigo Romain Leal, (Land), com dois poemas seus, me voltou aquele travo na garganta, o gosto de fruta verde que senti naquela manhã do dia dezoito de agosto de 1987.
Saudade daquilo que nunca tive e que perdi, como dizia um comercial em um velha estação de rádio do Recife. Era o amigo cujas palavras me vinham pelo correio, em um tempo ainda sem internet.
Você havia partido, e mais uma vez eu vivia a terrível sensação da impermanência das coisas a nos pegar sempre descalços, com roupa imprópria, os cabelos desalinhados.
Naquela manhã eu me perguntava o que seria, Drummond, o país sem você? Sem o grande Poeta, quem sabe o maior de todos? O que foi mestre de tantos outros que lhe seguiram os rastros antes de encontrar seu próprio caminho?
Quantos de nós sentiriam o que significava o nunca mais de um novo verso , um novo poema escrito por aquelas mãos? Não sabia, assim como até hoje não sei...
Lembro-me de que naquela manhã. Com aquela incerteza e aquela saudade juntei fotos, revistas, jornais que noticiavam sua morte dentro de uma pasta e guardei-os, sem coragem de lê-los.
Hoje seria seu 109° aniversário... Seria coincidência nascer no dia 31 de outubro aquele que foi um bruxo das palavras?
Neste 31 de outubro procurei nos jornais que nova velha verdade revelariam sobre você, e constatei mais uma vez que este é um país em que a memória é tratada com descaso. Ontem um jornal da “grande imprensa” trouxe um texto sobre você, e dois canais de tevê relembraram seu aniversário, mas um deles apresentou dados incorretos sobre você, e o outro gravou seu nome com um m apenas.
Talvez fosse mais fácil dividir com você, ainda que por carta, a revolta causada pela devastação das nossas florestas, o caos em que se encontra a Saúde, o medo que invadiu nossas escolas, os assassinatos dos que defendem os sem-terra, os sem-teto, a natureza.
Penso o que você diria sobre os assassinatos de Bin Ladin, Saddhan Hussein e Kadaffi, executados sem julgamento algum...
Mas não encontro respostas, o que tenho é o silêncio de sua ausência...
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«Quand il est mort le poète» algo morre em nós. E também se entranha e dá vida ao que não quer morrer. Quantas leituras vividas, quantas letras digeridas, quantas frases guardadas no albergue e baú das memórias. Fica a certeza: relembrar é viver. Feliz aniversário Carlos Drummond de Andrade.
ResponderExcluirQue bela relíquia você possui, Risomar. Deve ter muito orgulho dessa mensagem de próprio punho de Drummond. Te confesso que não sou um bom leitor de poesia, mas desse gênio eu fiz questão de ter em casa a obra completa e um único volume, papel bíblia, deve ter umas 2000 páginas. Guardo como um tesouro. Vez por outra, abro a esmo pra me encantar. Parabéns pela homenagem ao gauche Carlos.
ResponderExcluirObrigada a Marcelo Pirajá e a Manivelas da mente pelos comentarios. Um forte abraço
ResponderExcluirO meu exemplar, Marcelo, está tão velhinho que acho que vou precisar comprar outro.
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