Imagine
Inêz oLudé& da Silva
Através das artes expresso
O conteúdo da vida
Imagine sem a rima
O que seria a canção?
Imagine sem a viola
O que seria do Cão?
Sem os lápis, os pincéis
Como pintar corações?
Se a vida não bastasse
O que bastaria então?
O peito de um moreno
Para encostar a cabeça?
O riso de um curumim ?
O cheiro do seu jardim ?
A felicidade agora
É saber por que eu vim
Mostrar meu canto pro mundo
Mesmo porque não sou Raimundo
Nem tenho a solução
Tirar o de dentro pra fora
Não é fácil e me apavora
Como dizer que vi o mundo
E carrego-o na sacola
Feridas que não se fecham
Que volta e meia me voltam
Como dosar a dor
E ver o que me consola
Sorrir, cantar de viola
Violeira, xangozeira
Espiritada e ligeira
Desta vez cheguei primeiro
Cantarei alegre ao vento
Fugirei de assombração
Não contarei os sofrimentos
Dos índios desta nação
Quilombolas, sem terras, favelas
Não lembrarei de prisão, militares,
Cachorros da ditadura
Estes deixarei de vez
Que a justiça se faça
Mas se voltarem
A ter poder na minha nação
Retomarei o Cangaço
E meus chutes pra eles serão
Verei a vida que vem
Com mel queijo e rapadura
Mas não esquecerei dos deuses
Que me fizeram a cabeça
E me saciaram em doçuras
Acenderei as candelas
com o samba “Brasil Nunca Mais”
Contarei o meu segredo
Da pedra do meio do mar
Me sentarei na aurora
Com Zé Limeira em cartaz
Farei mil versos
Medonhos na viola
Que ganhei de Satanás
Este é um dos trabalhos de Inez Oludé
BIOGRAFIA de Inez Oludé :
Artista plástica muralista, poeta, nascida em Pernambuco, residente em Bruxelas desde 1976, onde chegou como exilada política.
Inêz Oludé é a “Artista brasileira que tem o sol nas mãos”, como é conhecida na Europa, é uma inusitada pintora de imagens do inconsciente, produzidas ora com a mão esquerda, ora com a direita, quando não com as duas simultaneamente. Suas obras, paisagens e personagens imaginárias, realizadas por fases que relatam sua história de vida como num diário, não nos deixam indiferentes, produzindo grandes obras abstratas, com cores espetaculares que tocam o essencial da natureza humana. Sua obra tem o sentido da existência: caos e ordem, luz e sombra, sopro de vida e de morte, beleza e feiura, humanidade e crueldade, paz e guerra, tudo e nada. O caos gera ordem e vice-versa, como a poesia, suas obras têm verso e reverso, sendo que o verso é tão verdadeiro como o reverso. Enraizadas na sua cultura, elas podem ser vistas de qualquer ângulo, guardando sempre uma coerência. Seus temas são recorrentes; vão da cultura popular à erudita e contam experiências vividas. A cada momento o universo se destrói e se reconstrói no olhar do observador que pode reinventar inteiramente a obra com sua própria imaginação. O universo pictórico de Inêz Oludé expressa sentimentos sutis e criam atmosferas de encantamento e deslumbramento numa verdadeira explosão de cores. Grande parte dos trabalhos desde o início de sua carreira fazem parte do imaginário brasileiro, retratando histórias enraizadas na ancestralidade.
Artista engajada, Inêz Oludé foi perseguida nos anos de chumbo no Brasil, exilada no Chile e na Bélgica, onde chegou em 1976, depois de libertar-se das prisões da Argentina. Suas obras integram importantes coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior.
É uma grande alegria pra mim ter Inez Oludé em meu Blog.
ResponderExcluirGostaria que publicar mais poemas seus, assim como mais fotos dos trabalhos dela de artes plásticas.
Logo, logo Inez estará no Brasil. Vem ao Rio de Janeiro para um encontro de artistas. Quem sabe dê uma esticada a São Paulo?